Isto das férias tem muito que se lhe diga. Fica-se por casa, sem obrigações que não sejam estender e apanhar a roupa ou por a mesa e lavar a loiça. E este nem é o pior dos males. Quando há aulas logo às 8:30 da manhã, sempre se tenta dormir umas horas e tomar café (ou Red Bull, para o clube). Nas férias, dou por mim na deprimência de ainda estar de olhos estupidamente abertos nas madrugadas do “Toca a Ganhar” – mau, muito mau.
Outro aspecto negativo das férias é a completa inutilidade em que me transformo. Sinceramente, um ácaro faz mais que eu. Óviamente que, depois das matines televisivas quase até às televendas, só abro as pestanas à hora de almoço. É aqui que há a imundice de trocar o pijama (imediatamente) por um fato de treino pestilento, esfregar os olhos e orientar o cabelo – enquanto invento um ar super desperto para ir dar os bons dias aos que chegam do trabalho, depois de uma manhã extenuante de reuniões e concílios.
Sem paciência para aturar os stresses naturais de que faz alguma coisa pela vida, há que arranjar um bunker. Nisto, o quarto começa a ser a única divisão da casa. Liga-se o ar condicionado na potência máxima do frio e as gavetas passam a servir de frigorífico. Acumula-se roupa em todas as superfícies, porque se está de férias.
Actualizar a biblioteca do ITunes parece mais complicado que resumir o Memorial do Convento, e mesmo as fichas de História seriam uns óptimos aperitivos para as noitadas de Mentes Criminosas. Além disto, sem a escola, diminui drasticamente o nível de informação: não há boateira sobre quem é que usou os WC (com quem) para algo mais que o habitual chichizinho, não há CEFas a prenderem os saltos agulha no chão e há algumas semanas que as minhas Terças-Feiras deixaram de incluir Red Bull e a revista Maria.
A parte chata das férias é que não há nada a infringir. Durante o tempo de aulas, há que faltar uma meia dúzia de vezes para manter o nível de auto-estima e rebeldia nos píncaros. Agora, não há assuntos interessantes de véspera de teste. Já ninguém descobre que afinal não há Tigres, só Dragões – que a voar são patos. Mas que, quem voou mesmo foi o outro (o que é que ele há-de fazer?) bem se lixou, foi assado sem batatas e sem azeite.
Porque não tenho (obrigatoriamente) de escrever, de moderar a emissão de pescadas ou de usar vocabulário específico, deixo de o fazer – e este blog começa a ficar michuruca. Meia volta mais tarde e foge-me a mão da pena para a cintura, o pé do sapato para o chinelo e a cabeça daqui para ali. O coração, se for batendo assim, é sinal que ainda não tenho arritmia.