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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

não vês?

A propósito de umas aventuras literárias foi-me pedida uma pequena apresentação, qualquer coisa como "eis a mariana em 5 linhas". Não podia, nunca, não te incluir. Antes disso, claro, tentei crescer uns palmos com referência a uma ou duas medalhas sem jeito. Mas tinha sempre de chegar a ti: "Desde junho de 2008 é orgulhosa autora do (muito modesto) blog Odeio Ervilhas". Sempre. És, meu querido, a casa na árvore que todos os putos querem - e que, como eu, nunca tiveram. Um cantinho só meu (só nosso), para sempre cúmplice e saudoso dos primeiros tempos. Também carregado de vergonha pelas baboseiras que eu mesma, menos isto e menos aquilo, fui escrevendo. Marca de evolução para coisa nenhuma, entre muitas palhaçadas e ocasionais momentos sérios, dramáticos. Um blog psicólogo e terapeuta, onde convido quem quero e qualquer um pode entrar. É o filho mais velho do capítulo de um livro. "O mais belo livro de contos publicado este ano em língua portuguesa." A responsabilidade cresce, traz com ela um ligeiro travo a champagne (era rosé). E eu só queria que soubesses, que visses. Que ainda cá estivesses, que existisses no espaço que me fizeste inventar. Só para eu te dizer "olha vê". Não vês?

Talvez não. Porque, afinal, é verdade o que dizia o poeta. Não se pode morar nos olhos de um gato.

A ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=PXu6M0jpa4c

domingo, 20 de novembro de 2011

com classe.

A arte do bom savoir-faire não é coisa com que se nasça. Não é inerente à malta rica das juventudes partidárias, não é exclusivo de quem vai à missa nem de quem lê muita poesia. É uma coisa alternativa, que vai aprimorando. Uma espécie de escolha que, uns anos depois, ajuda a definir quem somos. Distingue o insulto com classe do que é ordinário e grosseiro. E é tão simples mandar alguém a Mafra com um sorriso colgate, ar de gala e boa disposição. Fazer buracos nas costas é deselegante, porra.

com classe, exemplo#1:

segunda-feira, 25 de abril de 2011

em abril.

Não gosto que neste dia a Sic passe filmes da princesa e que a tvi passe documentários (também da princesa). Não gosto que, indirectamente, se dê mais importância a um par de noivos que a um dia nacional. Revela ignorância, não pode estar certo. Das poucas coisas interessantes que tem a nossa história, há uma revolução. Fizemos uma revolução e hoje ninguém se lembra dela. Porque o país está na crise, e na troika, e o no FMI e porque o Mário Soares tem cara de bolacha - diz a minha avó. E porque arregaçar as mangas, 'erguer a voz e cantar', é um calvário que Deus nos livre. Mas, porque sempre me foi difícil perder amigos, não tenho vontade de virar costas ( e ontem tanto se falou que no Luxemburgo dão subsídios aos filhos e aos pais, aquilo é um luxo). Então cá estamos, à espera de mais uma edição do programa das criancinhas a cantar, à espera da novela da noite com edição especial, à espera dos santos populares e dos meses quentes de férias. Porque este mês nem nisso é bom, ou está calor ou está de chuva. E hoje, afinal, que dia é?



Na canção que eu hoje trago
Direi tudo o que eu quiser
No passado deixo um cravo
Planto outra flor qualquer.

(...)

Lutei
Com que armas não sei
Mesmo na desgraça
Ergui a cabeça
E lutei.

Senti
A força da raça
Dum povo que passa
Depois de ser escravo
A ser rei.

Na canção que eu hoje vivo
Cabe tudo o que eu disser
A palavra amante e amigo
A fúria de viver.

- José Carlos Ary dos Santos, Mulher Presente

terça-feira, 15 de março de 2011

quem faz um filho.

Na tarde de sábado, entrei as 14h para atender um pai que queria inscrever o filho. Foi só tratar dos papéis e marcar horário - o meu último furo livre, eis o fim dos meus minutos para café, depois do almoço. Depois disso os alunos vieram todos, até às 19:30h. O dia tinha começado cedo, com uma deslocação até ao Tojeiro, para apoiar com guitarra o semi-oficial Grupo de Jovens de lá. Em casa só agradeci à minha mãe o almoço e foi uma corrida para chegar a horas. Com isto, no suposto primeiro dia de descanso, chegaram as 17h (e a última aula de flauta) e eu já sem cabeça para as notas trocadas e o som irritante de quem está a aprender. Para aprimorar o dia, na última aula de iniciação musical, o senhor (que já tem 50 e muitos anos e mãos de pedreiro) apareceu, como se esperava, bêbedo. E a missão que, num comum sábado, é impossível (porque com aquela vida não há cabeça que decore as posições das notas) foi muito para além disso. Com esforço, aguentei a primeira meia-hora. Mas como não me pagam assim tanto, acabei a aula por ali, e que se lixe. Já estava a olhar para o relógio, na ânsia de não perder a abertura dos telejornais. A manifestação havia de ter sido uma coisa digna, em grande e em bom. Entrei casa-adentro, lancei os dossiers para a mesa e eu própria para o sofá. Já não apanhei a abertura, mas felizmente fizeram um 'especial-informação' que durou mais de dez minutos, com entrevistas às velhotas que tinham ido reclamar um futuro para as netas - até me apeteceu ligar à Maria Albertina a saber onde andaria! As reportagens correram o país todo, e eu sem acreditar que eles não tinham ido. Lá estavam os Homens da Luta, numa carrinha com colunas muito mal atadas. A guitarra do Falâncio foi de mão em mão, por Rui Veloso, Fernando Tordo e Vitorino. E eu a bater palmas no sofá - e a minha mãe, enquanto aquecia a sopa, a dizer que eu sou 'doidinha'. Vi o telejornal até ao fim e ainda fui aos canais 24h. Corri a internet e a rádio. E era verdade: os Deolinda não foram. Em comunicado, informaram que não estariam presentes, e foi isso.
Portanto, não digam que eu sou da "Geração Deolinda". Isso seria tão mau como o ditado "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço". Porque fazer músicas é como fazer filhos: com gosto e com responsabilidade. Até há maneiras simples de emendar tudo no dia a seguir, mas não funciona com as cantigas. E se é para 'ser de alguém', como no futebol, prefiro ser dos "da Luta". Chamem-lhes 'doidinhos', irresponsáveis ou inconsequentes. Estiveram lá, e isso tem de contar. E vão à esquadra, e podem até não ir à Eurovisão - mas que importa, se eles já disseram que, mesmo desclassificados, apanham o avião e vão cantar nem que seja à porta? É que, por estes dias, confesso que é um alívio poder acreditar no que se diz, na confiança de que vai ser feito. E eu, quando disse que não fazia exame naquelas condições, não fiz. E saí do auditório. E já mandei cartas ao Director da Faculdade e ao Conselho Pedagógico - e continuo sem o exame feito, com a nota pendurada. E isso até me incomoda, porque sei que a minha mãe me chamou 'doidinha' - mas também vi que ficou contente porque, e como diz a minha avó, "meu dito, meu feito".