Encontrei uma caixa de cds velhos. "Escolhas Musicais de 2007", por exemplo, a abrir com uma faixa pavorosa do Luís Represas. E o meu vício também antigo de dar nomes como "Várias", "Várias 1" e "Várias 2" às colectâneas não autorizadas de músicas obtidas por meios duvidosos. Na pilha de pérolas resgatei o oficial dos Morangos com Açúcar, 3ª temporada, série de Verão - com o genérico do Ménito Ramos, um sonho. Pelo meio de outras capas não identificadas encontrei a Norah Jones, já dentro do carro. Que merda. Gastei 10€ em 'sem chumbo 95' para fazer piscinas na avenida, de rotunda em rotunda. Arriscando um fuga rápida até aos semáforos que levam à estrada da Figueira, recuando pela rua apertada no meio dos campos de arroz, com vista para o castelo. Foi uma noite triste, uma coisa estúpida que não queiras saber. Subi a ladeira e parei no parque do castelo, fiquei até um casal de pombos vir reclamar o espaço mal iluminado, propício e famoso para umas aventuras. Desci até à beira-rio, onde descobri indivíduos encasacados a trocar sinais de luzes e saquinhos de plástico. Merda. Já não se pode estar em lado nenhum. Estacionei no parque da Igreja, baixei o volume do rádio e consegui ouvir as senhoras do coro e a pianola fora de tempo, lenta, arrastada e enrolada com o eco das pedras. 9ª Estação, Jesus cai pela terceira vez. E cânticos, leituras que não se conseguem ouvir. E eu farta de cair, mais que três vezes, tenho uma habilidade natural (é um dom) para tropeçar. Coisas grandes, quedas intensas e de ficar com as costas de lado, incapaz de um braço ou de uma perna. Pior que isso, tu. Todos os modos verbais do pretérito, todas as Escolhas de 2007. Todos os pequenos sinais, o teu jeito de infiltração que ainda se esconde em caixas de cds velhos, como bombas não identificadas e prontas a rebentar. É como jogar ao Minesweeper, só que sempre. 24/7. E um grande silêncio, agora, uma inexistência absoluta. Daquelas limpezas que não se pode fazer nos computadores, porque tudo deixa rasto. Contigo não, nada. Se eu não soubesse, se não fossem os cds de outros anos lectivos, podia jurar que tinha sonhado. E que o mal das costas era só resultado de uma posição errada durante o sono. Se eu não soubesse, jurava que nunca tínhamos sido, que a música nunca tinha tocado.
Mostrar mensagens com a etiqueta Neura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Neura. Mostrar todas as mensagens
segunda-feira, 19 de março de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
senhor primeiro-ministro,
tenho o quarto todo desarrumado, sabe? E é um quarto bonito, não é muito espaçoso mas tem uma janela que dá para a rua e, para entrar, é logo a primeira porta à esquerda. Mesmo assim, deixei que o entulho crescesse como as silvas, tenho tudo espalhado por todo o lado. Às vezes, quando chega a sexta-feira já só um perito das minas e armadilhas consegue fazer o meio-metro que separa a cama da porta, ou o armário da secretária. As coisas estão todas perto umas das outras, é essa a única facilidade.
Isto aqui não é como em casa, aqui é uma balbúrdia. Lá estão os cobertores bem alinhados, com cores a condizer. As paredes branquinhas como se quer, a bater com os cortinados e os tapetes e os edredons. Se um tem riscas, o outro não pode ter. Aqui não, é tudo malhado, uns traços a bater nos outros. E lençóis daquela cor da escola básica (quando não se podia dizer vermelho) com mantas do FCP. O mural do facebook espetado na parede com post-its amarelos, mais uns posters fanados de um sítio qualquer.
A comédia que aqui tem lugar é de tal ordem que eu tremo toda quando a mãe estica a cabeça cá para dentro. Se ela visse, jesus! Fazia cá falta para me arrumar isto, nem que fosse só para me dar a ordem. Uma daquelas perguntas lixadas, a que eu nunca respondo. "Mariana, já arrumaste o teu quarto?". Caraças, ainda não.
Senhor ministro, olhe que a minha mãe faz falta ao país.
Isto aqui não é como em casa, aqui é uma balbúrdia. Lá estão os cobertores bem alinhados, com cores a condizer. As paredes branquinhas como se quer, a bater com os cortinados e os tapetes e os edredons. Se um tem riscas, o outro não pode ter. Aqui não, é tudo malhado, uns traços a bater nos outros. E lençóis daquela cor da escola básica (quando não se podia dizer vermelho) com mantas do FCP. O mural do facebook espetado na parede com post-its amarelos, mais uns posters fanados de um sítio qualquer.
A comédia que aqui tem lugar é de tal ordem que eu tremo toda quando a mãe estica a cabeça cá para dentro. Se ela visse, jesus! Fazia cá falta para me arrumar isto, nem que fosse só para me dar a ordem. Uma daquelas perguntas lixadas, a que eu nunca respondo. "Mariana, já arrumaste o teu quarto?". Caraças, ainda não.
Senhor ministro, olhe que a minha mãe faz falta ao país.
Etiquetas:
A minha família é uma animação,
Neura
terça-feira, 19 de julho de 2011
quinta-feira, 16 de junho de 2011
eclipse
Lembro-me de quando era criança, lembro-me do primeiro eclipse. Estava na Figueira da Foz, em casa da minha avó, com a minha irmã. A avó Albertina equipou-nos com aqueles óculos especiais que ofereciam nas farmácias. Nunca percebi, mas tínhamos de os usar. Sei que estava ansiosa para ver o que acontecia à lua, sem querer saber dos óculos. Subimos depois as escadas do prédio até à janela mais larga do piso de cima. Por alturas, cabíamos todas. Foi rápido, nada de especial. Desconfio que não achei piada nenhuma àquilo. O interesse era mesmo espreitar por baixo dos óculos, mas ninguém me deixou.
Agora, com 19 anos, perco eclipses. O primeiro do ano, e eu a passear nos Arcos, na rua do Jardim Botânico, à procura, sem óculos e sem ver a lua. Desisti. Vai à merda, eclipse. Um fenómeno lunar também não pode ser assim tão importante - acho que até era, enfim. Tinha um plano e correu mal, porra. E já não há mais eclipses. Ups.
sábado, 23 de abril de 2011
casa.
Por causa das férias, tenho estado em casa. Em casa-mesmo, o Refustedo é só abrigo para estudante. Aqui, na vila, os dias ou estão cheios de coisas para fazer, ou as tardes arrastam-se por séculos até à hora de jantar. Posso andar o dia inteiro com meias rotas e calças velhas, aquilo a que alguém muito sábio um dia chamou "roupa de andar por casa".
Mas aqui não há autocarros dos SMUT que me levem a passear à baixa, não há o café da praça onde se possa estar a tarde toda sem comentários das velhas. Não se pode beber finos e comer tremoços, isso seria o fim. O mais radical é dizer, cá em casa, que vou tomar café com gente de confiança e que volto cedo. E nunca passo das 2h. Só que aqui há pássaros logo de manhã. São o meu despertador. E a persiana não fecha bem, ainda não foi arranjada, desde o verão. Portanto acordo as 10h, com sol na quarto e com pássaros a fazer os seus barulhos. E é muito bonito, muito poético, mas é de manhã. Depois acordo e não há nem Faculdade, nem gabinete, nem esplanada, nem a banca dos jornais do Senhor Pavão. Começa o tédio a atacar. Mesmo a tempo, porque hoje a noite já há café, na rebeldia até às 2h. E amanhã já há Páscoa e coisas doces. E depois, há Coimbra.
Mas aqui não há autocarros dos SMUT que me levem a passear à baixa, não há o café da praça onde se possa estar a tarde toda sem comentários das velhas. Não se pode beber finos e comer tremoços, isso seria o fim. O mais radical é dizer, cá em casa, que vou tomar café com gente de confiança e que volto cedo. E nunca passo das 2h. Só que aqui há pássaros logo de manhã. São o meu despertador. E a persiana não fecha bem, ainda não foi arranjada, desde o verão. Portanto acordo as 10h, com sol na quarto e com pássaros a fazer os seus barulhos. E é muito bonito, muito poético, mas é de manhã. Depois acordo e não há nem Faculdade, nem gabinete, nem esplanada, nem a banca dos jornais do Senhor Pavão. Começa o tédio a atacar. Mesmo a tempo, porque hoje a noite já há café, na rebeldia até às 2h. E amanhã já há Páscoa e coisas doces. E depois, há Coimbra.
terça-feira, 5 de abril de 2011
cerebrum
A Tatiana embirra constantemente com o meu problema de dicção. É verdade, às vezes, quando estou muito animada, muito descontraída ou muito nervosa, troco letras nas palavras e enrolo a língua a falar. Fica um som meio engraçado, ridículo. E ela faz sempre o reparo: "esse teu problema!". Mas, pior que este há outro, fora da minha idade. Tenho fraca memória, esqueço-me das coisas. É aleatório, olvido com a mesma naturalidade o que comi ontem ao jantar, o que tenho para fazer amanhã ou uma ninharia qualquer que alguém me pediu para lembrar. Tenho a agenda sempre na mala e não é raro ter notas escritas na mão. Mas, mesmo assim, às vezes esqueço-me. É fácil.
Hoje esqueci-me do assunto durante 10 horas. É um feito, quase meio dia. Tenho confirmação de mensagem enviada antes das 12h e não foi senão agora que pensei: não respondeu. E depois pensei: merda, não respondeu. Até que o disse, não está aqui ninguém que me oiça, posso proferir as maiores barbaridades em sossego. Mas o que há de bom nesta fraca memória de que padeço é que, juro, vou involuntariamente esquecer-me disto! Até dos palavrões. E, outra maravilha da nossa cabeça: mesmo que sonhe durante a noite, amanhã não vou saber.
Hoje esqueci-me do assunto durante 10 horas. É um feito, quase meio dia. Tenho confirmação de mensagem enviada antes das 12h e não foi senão agora que pensei: não respondeu. E depois pensei: merda, não respondeu. Até que o disse, não está aqui ninguém que me oiça, posso proferir as maiores barbaridades em sossego. Mas o que há de bom nesta fraca memória de que padeço é que, juro, vou involuntariamente esquecer-me disto! Até dos palavrões. E, outra maravilha da nossa cabeça: mesmo que sonhe durante a noite, amanhã não vou saber.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
terceiro 4º dia.
Deixei-me dormir toda a manhã, só abri os olhos quando o sol ficou mais forte que a cortina. A medo, escorreguei da cama e contemplei o caos do meu quarto. Primeiro pensamento do dia: "tenho que arrumar". Aspirei tudo, sem ver que o cabo estava enrolado na cadeira. Parti uma caneca - que estava onde não devia. Depois lavei a cara e sentei-me ao computador para trabalhar. Esqueci-me do almoço e, quando me lembrei, já a cozinha estava nojenta - mesmo para atum com massa ou sandes de fiambre.
Depois a minha mãe veio de Montemor para me trazer um aquecedor e passou no Mac para me trazer o jantar. Tudo porque no domingo, quando fizeram falta, não estiveram. Mas sem ressentimentos. Pela tarde, a Bárbara apareceu desgostosa, mas acabou por sair rápido para resolver o assunto. Ainda nem sei se ficou resolvido ou não. Fiquei com a Patrícia a ver o extra da Casa dos Segredos, já com a companhia do aquecedor que veio lá de casa (da minha casa).
O trabalho de Rádio foi pelo cano. Ninguém me atende para as entrevistas, há pouca informação na net e tenho que aturar um programa da manhã chamado "Hora do Camionista". O momento mais produtivo do dia foi uma carta. Escrevi uma carta, sinto-me gente importante. Planeio, agora, deitar-me a ver a Passione ou a novela da TVi - que tem uma miúda a fazer papel de histérica. Aliás, um bocadinho mais histérica que as outras todas, só isso.
Depois a minha mãe veio de Montemor para me trazer um aquecedor e passou no Mac para me trazer o jantar. Tudo porque no domingo, quando fizeram falta, não estiveram. Mas sem ressentimentos. Pela tarde, a Bárbara apareceu desgostosa, mas acabou por sair rápido para resolver o assunto. Ainda nem sei se ficou resolvido ou não. Fiquei com a Patrícia a ver o extra da Casa dos Segredos, já com a companhia do aquecedor que veio lá de casa (da minha casa).
O trabalho de Rádio foi pelo cano. Ninguém me atende para as entrevistas, há pouca informação na net e tenho que aturar um programa da manhã chamado "Hora do Camionista". O momento mais produtivo do dia foi uma carta. Escrevi uma carta, sinto-me gente importante. Planeio, agora, deitar-me a ver a Passione ou a novela da TVi - que tem uma miúda a fazer papel de histérica. Aliás, um bocadinho mais histérica que as outras todas, só isso.
Etiquetas:
Disseram eles "jornalista está a dar",
Neura
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
casa abandonada.
É um espaço abandonado, o que sobrou de um ginásio que faliu à pressa e levou os móveis que havia para levar. A entrada (que era a saída) já não tem porta e a parede está escavada. O Rocha e o Fernando apresentaram-me aquilo no ano passado, quando foram roubar um aspirador e posters de tipas semi-nuas a publicitar calçõezinhos e bebidas energéticas. Apanhei um cagaço na sala de espelhos - era de noite e a luz do telemóvel não deu para perceber que era só o meu reflexo. Ontem voltei lá com as duas novas inquilinas da casa.
Ainda me lembrava do sítio das escadas, do sítio onde mandei uns berros - e do sítio onde estava o aspirador. Era outra vez de noite e só tínhamos as lanternas do telemóvel. O que eu não esperava era encontrar a porta do segundo piso aberta, depois do hall da recepção. Aí, era tudo novo para mim - e desta vez não tinha nem Fernando nem Rocha, só a Daniela e a Ana. Agarrei num cabo de vassoura e fui explorando o terreno semi-iluminado. Já não estávamos no ginásio. Ali eram os gabinetes e salas de um consultório privado de fisioterapia e estomatologia. Havia placas nas portas e tábuas a trancar a entrada principal. Na casa-de-banho ainda estavam pendurados rolos de papel higiénico e havia quatro sabonetes líquidos, já com a cor alterada, em cima do lava-mãos. O chão era alcatifado e as salas bem espaçosas - pelo menos agora, sem móveis. Não havia mais nada para descobrir no rés-do-chão. As escadas que subiam tinham muito pó e as aranhas começavam a instalar-se. No primeiro andar nada mais que uma porta semi-arrombada que ainda tentei, sem sucesso, abrir. As escadas até ao segundo andar eram ainda mais velhas, de madeira e com buracos em alguns degraus. A porta estava aberta e a fechadura tinha sido forçada com um pé de cabra (digo eu). Entrámos, o cabo da vassoura outra vez a abrir o desfile. Um corredor central e várias portas. Logo à direita a casa-de-banho, ainda com uma boneco colado na porta, em folha branca, ao qual alguém acrescentou a legenda "aqui obra-se". Daí para a frente eram quartos, alguns ainda com pedaços de papel de parede alaranjado, com sapos, e um espelho meio sujo. A última porta era a cozinha e tinha afixado um papel que dizia "comida quente e boa". Tinha fogão, forno, um armário pendurado na parede, um tanque, dois lava-louça e uma mesa pequena. Depois de deixarmos tudo revirado em conjunto, cada uma foi rever o que mais lhe agradou, antes de descermos as escadas até ao ginásio. Espreitei pelos quartos um a um. Nada de característico, nenhuma marca deixada pelo anterior habitante. Mas no último quarto, o que estava sozinho na ponta do corredor, dei com isto atrás da porta.
"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca
Palavras de amor, de esperança
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que tem beijam
Quando a noite perde o rosto
Palavras que se recusam
Os muros do teu desgosto
De repente coloridas
Entre palavras sem cor
Espetadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."
Alexandre O'Neill
Com a minha voz de ler poesia, corri o texto de alto a baixo. Li tudo sem parar, com a luz fraca da lanterna do telemóvel. Acabei e disse o nome do autor. Pensei que tivesse feito uma grande coisa, mas alguém do outro lado responde "achas que dá para levar o armário da cozinha?". E eu arranquei o papel da porta, meti no bolso e preparei-me para descer as escadas. Fica muito bem na minha parede, já não vou devolver.
Ainda me lembrava do sítio das escadas, do sítio onde mandei uns berros - e do sítio onde estava o aspirador. Era outra vez de noite e só tínhamos as lanternas do telemóvel. O que eu não esperava era encontrar a porta do segundo piso aberta, depois do hall da recepção. Aí, era tudo novo para mim - e desta vez não tinha nem Fernando nem Rocha, só a Daniela e a Ana. Agarrei num cabo de vassoura e fui explorando o terreno semi-iluminado. Já não estávamos no ginásio. Ali eram os gabinetes e salas de um consultório privado de fisioterapia e estomatologia. Havia placas nas portas e tábuas a trancar a entrada principal. Na casa-de-banho ainda estavam pendurados rolos de papel higiénico e havia quatro sabonetes líquidos, já com a cor alterada, em cima do lava-mãos. O chão era alcatifado e as salas bem espaçosas - pelo menos agora, sem móveis. Não havia mais nada para descobrir no rés-do-chão. As escadas que subiam tinham muito pó e as aranhas começavam a instalar-se. No primeiro andar nada mais que uma porta semi-arrombada que ainda tentei, sem sucesso, abrir. As escadas até ao segundo andar eram ainda mais velhas, de madeira e com buracos em alguns degraus. A porta estava aberta e a fechadura tinha sido forçada com um pé de cabra (digo eu). Entrámos, o cabo da vassoura outra vez a abrir o desfile. Um corredor central e várias portas. Logo à direita a casa-de-banho, ainda com uma boneco colado na porta, em folha branca, ao qual alguém acrescentou a legenda "aqui obra-se". Daí para a frente eram quartos, alguns ainda com pedaços de papel de parede alaranjado, com sapos, e um espelho meio sujo. A última porta era a cozinha e tinha afixado um papel que dizia "comida quente e boa". Tinha fogão, forno, um armário pendurado na parede, um tanque, dois lava-louça e uma mesa pequena. Depois de deixarmos tudo revirado em conjunto, cada uma foi rever o que mais lhe agradou, antes de descermos as escadas até ao ginásio. Espreitei pelos quartos um a um. Nada de característico, nenhuma marca deixada pelo anterior habitante. Mas no último quarto, o que estava sozinho na ponta do corredor, dei com isto atrás da porta.
"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca
Palavras de amor, de esperança
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que tem beijam
Quando a noite perde o rosto
Palavras que se recusam
Os muros do teu desgosto
De repente coloridas
Entre palavras sem cor
Espetadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."
Alexandre O'Neill
Com a minha voz de ler poesia, corri o texto de alto a baixo. Li tudo sem parar, com a luz fraca da lanterna do telemóvel. Acabei e disse o nome do autor. Pensei que tivesse feito uma grande coisa, mas alguém do outro lado responde "achas que dá para levar o armário da cozinha?". E eu arranquei o papel da porta, meti no bolso e preparei-me para descer as escadas. Fica muito bem na minha parede, já não vou devolver.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
vontade, precisa-se...
Nestes dias em que devia estar super concentrada nas variações entre Teorias da Comunicação, Sociologia da Comunicação, Teorias da Notícia e Jornalismo de Imprensa ... aparece-me a Bu a pedir mimos e brincadeiras:

A Bu, com o seu mês e meio de existência, é a cadela do R. e da S., com quem partilho casa, e exige alguma atenção... Logo engraçou comigo e, como a ensinámos a subir a descer as escadas, agora segue-me se não lhe dou a atenção que ela merece. Acabo rendida ao seu ganir, a aturar as manias da criança - e a perder panos da cozinha, porque ela os apanha e, muito feliz, já está a roer.
Quando não é a Bu a distrair-me, são as séries que a sic passa a des-horas - a partir da meia-noite. Ou então não tenho mesmo a mínima vontade de pegar em apontamentos e ocorrem-me mil e uma coisas mais interessantes que podia estar a fazer. Depois lá me decido a estudar (vamos embora) e, como estou contrariada, daí a nada estou a baralhar autores e escolas e teorias - e tenho de voltar ao início. Finalmente, tudo acaba por fazer algum sentido e talvez haja esperança.
Falta de vontade, é o espírito.
Nota Importante: a minha conta de youtube sugere-me que veja o vídeo "Celine Dion - Because you loved me (live in Memphis)". Depois disto, estou ansiosamente à espera do dia em que me vai aconselhar a ver os fanvids do "Ghost, The Spirit of Love", com banda sonora dos Righteous Brothers. Damn it.
Quando não é a Bu a distrair-me, são as séries que a sic passa a des-horas - a partir da meia-noite. Ou então não tenho mesmo a mínima vontade de pegar em apontamentos e ocorrem-me mil e uma coisas mais interessantes que podia estar a fazer. Depois lá me decido a estudar (vamos embora) e, como estou contrariada, daí a nada estou a baralhar autores e escolas e teorias - e tenho de voltar ao início. Finalmente, tudo acaba por fazer algum sentido e talvez haja esperança.
Falta de vontade, é o espírito.
Nota Importante: a minha conta de youtube sugere-me que veja o vídeo "Celine Dion - Because you loved me (live in Memphis)". Depois disto, estou ansiosamente à espera do dia em que me vai aconselhar a ver os fanvids do "Ghost, The Spirit of Love", com banda sonora dos Righteous Brothers. Damn it.
Etiquetas:
Disseram eles "jornalista está a dar",
Neura
quarta-feira, 3 de março de 2010
Quantas vezes vou a escrever e risco tudo. Mando o caderno à me***, como se tivesse culpa do que não me sai. Porque vou, mas nunca é bem "ir". Como agora, vá lá ver. Esta treta que me faz gastar tanta tinta, podia muito bem ser algo que encontrei escrito em algum lado, por aí. Que não fosse meu - faz sentido? Eu chegava, lia e ria. Arranjava; arranjava não, surgia. Surgia logo maneira de se fazer piada. Porque para gozar é mais simples. Aparece uma pessoa que nem bate à porta. Chega e instala-se, porque é confortável. Mas quando é suposto, quando quero mesmo falar sério, não consigo.
E quantas vezes começo; quantas vezes já vou a mais de meio e páro, volto atrás e pergunto "que por** se passa ali?". Talvez me fosse mais fácil falar. Mas não é assim, esbarro no mesmo muro. Dá-se o caso de ficar atada, e fazer piada fácil - e feia. Sei qual é o problema: não tenho nenhuma personagem para mim.
E quantas vezes começo; quantas vezes já vou a mais de meio e páro, volto atrás e pergunto "que por** se passa ali?". Talvez me fosse mais fácil falar. Mas não é assim, esbarro no mesmo muro. Dá-se o caso de ficar atada, e fazer piada fácil - e feia. Sei qual é o problema: não tenho nenhuma personagem para mim.
Que se dane,
vou deixar a rua me levar.
sábado, 3 de outubro de 2009
"Não olhes pra mim, não olhes"
Ainda agora estava furiosa, danada dos pregos (como se costuma dizer). Tinha planeado vir aqui deixar uma qualquer mensagem hiper raivosa, capaz de reflectir a vontade que tinha de mandar alguém à Quinta do Caraças. Depois pensei que, antes disso, e para conseguir explicar-me melhor, devia ir ao iTunes escolher um tema qualquer muito metálico para furar os tímpanos a quem abrisse esta página.
Esqueci-me que tinha a escolha aleatória... quando carreguei no play ouço a Amália a cantar a sina da Comadre Mari' Benta. Agora estou só a pensar que, depois de uma certa hora, sou a criatura mais ridícula que conheço.
As melhoras ao garoto da Comadre Mari Benta.
Esqueci-me que tinha a escolha aleatória... quando carreguei no play ouço a Amália a cantar a sina da Comadre Mari' Benta. Agora estou só a pensar que, depois de uma certa hora, sou a criatura mais ridícula que conheço.
As melhoras ao garoto da Comadre Mari Benta.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Esgoto a Poesia
"Nadei contra a corrente
Afoguei-me em aguardente
Por ti, só por ser por ti"
(bebedeiras psicológicas, depois das duas; frequentes, diagnosticadas mas incuráveis)
terça-feira, 21 de julho de 2009
Ultimamente...
"Repensando a trajectória até aqui
Clareando as ideias pra melhor prosseguir
Eu me lembro, na caminhada
Repensando a cada encruzilhada
De decisões certas
De decisões erradas
Entre você e o sol, um longo caminho
Com muitas nuvens, trovões, rosas e espinhos
Sozinho ou não
No seu coração a intuição te canta a direcção
(Te canta a vida nessa imensidão)
Ando pensando, procurando coisas pra dizer
Que não fazem sentido longe de você
Estava me sentindo estranha, com vontade de te ver
Sonhando, imaginando coisas com você
(Estava imaginando coisas com você)"
Clareando as ideias pra melhor prosseguir
Eu me lembro, na caminhada
Repensando a cada encruzilhada
De decisões certas
De decisões erradas
Entre você e o sol, um longo caminho
Com muitas nuvens, trovões, rosas e espinhos
Sozinho ou não
No seu coração a intuição te canta a direcção
(Te canta a vida nessa imensidão)
Ando pensando, procurando coisas pra dizer
Que não fazem sentido longe de você
Estava me sentindo estranha, com vontade de te ver
Sonhando, imaginando coisas com você
(Estava imaginando coisas com você)"
Credo. Há alturas em que me sinto tããão bipolar.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Joder, yore muxissimo.
Deixa de ser apenas mais uma série quando todas as quartas-feiras, religiosamente como quem não perde as missas ao domingo, vês o episódio da semana.
Joder, que yore muxissimo con el puto final.
(Foi nesta parte que tive de ir a correr buscar um rolo de papel higiénico, porque a almofada já não servia).
Joder. Mataram o preto, o gay, a lésbica e o extra-conjugal; a insegura trocou o co-marido pelo marido regressado do raio que o partisse; enfim, entre mortos, feridos e trocados são mais que muitos. Os guionistas mereciam duas chapadas. Ninguém morre no dia do casamento, não pode.
Moral da história: Mariana Pardal, deixa de ser parva e não sigas séries espanholas que começaste a ver em Lloret - obviamente que acaba mal.
Joder, que yore muxissimo con el puto final.
(Foi nesta parte que tive de ir a correr buscar um rolo de papel higiénico, porque a almofada já não servia).
Joder. Mataram o preto, o gay, a lésbica e o extra-conjugal; a insegura trocou o co-marido pelo marido regressado do raio que o partisse; enfim, entre mortos, feridos e trocados são mais que muitos. Os guionistas mereciam duas chapadas. Ninguém morre no dia do casamento, não pode.
Moral da história: Mariana Pardal, deixa de ser parva e não sigas séries espanholas que começaste a ver em Lloret - obviamente que acaba mal.
Los Hombres de Paco - El desenlace
domingo, 7 de junho de 2009
Memórias
Tenho disso aos montes. Em caixas, fotografias, estantes e gavetas. De tempos a tempos, apetece-me ir espreitá-las.
Acabei por ter um tête à tête com o livro que continua à espera de ser oferecido: "Preciso de ti".
Acabei por ter um tête à tête com o livro que continua à espera de ser oferecido: "Preciso de ti".
terça-feira, 7 de abril de 2009
Estou que não me entendo.
Porque sempre fui desarrumada. Desde miúda que a minha estante dos bonecos e carrinhos acumulava pó enquanto o chão estava minado de mil e uma coisas. Deve ser crónico, sei lá, porque genético não é.
Tenho sempre dossiers em pilha, capas, micas e cadernos com o dobro das folhas lá enfiadas. Gosto dos post-it colados debaixo da janela do escritório, e das frases amontoadas à volta do horário da escola. Arrumo o quarto toda a tarde e depois sento-me a ver televisão, mas se preciso de um casaco, há-de ser o que está no fundo da gaveta ou no canto mais maquiavélico do armário; se me apetece ler, nunca é o primeiro livro que tiro da estante, e o mesmo com os cd's em cima do rádio.
Entendo-me bem assim, afinal são 17 anos de treino em busca e salvamento de seja lá o que for do meio dos escombros do escritório e do quarto.
O computador é o que, além de mim, oscila mais entre as duas zonas da casa e, estupidamente, a coisinha mais arrumada que tenho: as músicas estão por género e intérprete, os sites na barra dos favoritos, o ambiente de trabalho organizado.. as fotografias divididas por milhentas pastas. Como não podia deixar de acontecer comigo, devo ter-me fartado de organizar imagens e acabei com uma pasta com o nome "Várias". Abrindo essa, aparecem logo meia dúzia delas. Mas ainda há à escolha as "Pessoais" e as "Outras". Que seja a primeira, vá. Agora já são cerca de 20 que escaparam à ordem inicial, e apenas uma pasta - que ganhava mais tendo ficado fechada.
Tenho sempre dossiers em pilha, capas, micas e cadernos com o dobro das folhas lá enfiadas. Gosto dos post-it colados debaixo da janela do escritório, e das frases amontoadas à volta do horário da escola. Arrumo o quarto toda a tarde e depois sento-me a ver televisão, mas se preciso de um casaco, há-de ser o que está no fundo da gaveta ou no canto mais maquiavélico do armário; se me apetece ler, nunca é o primeiro livro que tiro da estante, e o mesmo com os cd's em cima do rádio.
Entendo-me bem assim, afinal são 17 anos de treino em busca e salvamento de seja lá o que for do meio dos escombros do escritório e do quarto.
O computador é o que, além de mim, oscila mais entre as duas zonas da casa e, estupidamente, a coisinha mais arrumada que tenho: as músicas estão por género e intérprete, os sites na barra dos favoritos, o ambiente de trabalho organizado.. as fotografias divididas por milhentas pastas. Como não podia deixar de acontecer comigo, devo ter-me fartado de organizar imagens e acabei com uma pasta com o nome "Várias". Abrindo essa, aparecem logo meia dúzia delas. Mas ainda há à escolha as "Pessoais" e as "Outras". Que seja a primeira, vá. Agora já são cerca de 20 que escaparam à ordem inicial, e apenas uma pasta - que ganhava mais tendo ficado fechada.

"Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há"
"I wish you bluebirds in the spring
To give your heart a song to sing
And than a kiss
But more than this
I wish you love"
To give your heart a song to sing
And than a kiss
But more than this
I wish you love"
domingo, 5 de abril de 2009
Ontem, Hoje e Amanhã
ONTEM:
Vinha eu com vontade de rasgar a saia, os collans, a camisa, a gravata e o casaco da filarmónica, depois do serviço em Montemor, a pensar que não vou fazer rien de rien nos próximos dias e depois sim, depois hei-de estudar. Ora, nisto liga-se música dos meus amados 90's (Anjos - Perdoa) e, a meio de nada, um deles sai-se com esta: "Também para nós / Camões criou a Ilha dos Amores". Perseguição? Enguiço? Mau-olhado? Um carago de um azar? Aceito apostas.
HOJE:
É triste acabar o fim-de-semana sozinha no sofá a beber chá, com um cachecol enroladérrimo no pescoço e a ouvir Patti Smith. Só de pensar que "agora aqui à dias" acordava com os gritos da Luci, a chamar filhos da p*** a toda a gente, com carvalhais e mértolas à mistura... como era calmo e sossegado LLoret pela manhã.
AMANHÃ:
O Padeiro diz que vai chover. Eu acho que não, vai fazer sol.
Vinha eu com vontade de rasgar a saia, os collans, a camisa, a gravata e o casaco da filarmónica, depois do serviço em Montemor, a pensar que não vou fazer rien de rien nos próximos dias e depois sim, depois hei-de estudar. Ora, nisto liga-se música dos meus amados 90's (Anjos - Perdoa) e, a meio de nada, um deles sai-se com esta: "Também para nós / Camões criou a Ilha dos Amores". Perseguição? Enguiço? Mau-olhado? Um carago de um azar? Aceito apostas.
HOJE:
É triste acabar o fim-de-semana sozinha no sofá a beber chá, com um cachecol enroladérrimo no pescoço e a ouvir Patti Smith. Só de pensar que "agora aqui à dias" acordava com os gritos da Luci, a chamar filhos da p*** a toda a gente, com carvalhais e mértolas à mistura... como era calmo e sossegado LLoret pela manhã.
AMANHÃ:
O Padeiro diz que vai chover. Eu acho que não, vai fazer sol.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Um dia com as Little
Porque realmente há alturas em que nos apetece mesmo mesmo dizer: "Bardam#&$a!" - citando P. de Azevedo, óbvio. Mas é inútil mandar seja quem for a sítios impróprios. Portanto, que se dane, que sempre é mais suave e não convém mandar muitas vezes o politicamente correcto às favas! Há-de ser "Cada um por si e Deus por todos", como diz a minha avó! ;) Ou... numa perspectiva ligeiramente mais intelectual (ó p'ra ela!) : FELIZMENTE... FELIZMENTE HÁ LUAR! :)
Portanto, aqui fica um "Thank you darlings" por mais um dia magnífico que teve direito a:
1) Cenas ridículas e escusadas em locais públicos
2) Músicas dos anos 90 cantadas na rua, corredores da escola, bar e biblioteca ("És a Rainha da Noiteee")
3) Mini fuga para abastecimento de café - Luci não vive sem eles
4) Exercícios abdominais com gargalhadas - muitos
P.s. Nas little inclui-se o Padeiro, o King! ;D
[ I'm not dead, just floating ]
So... So what?? I'm still a Rockstar!
I've got my rock moves
And I don't need you tonight!
I've got my rock moves
And I don't need you tonight!
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Bad day...
Subscrever:
Mensagens (Atom)