sábado, 28 de maio de 2011

voltei à Banda.

Aquilo continua a mesma comédia. E podia exemplificar com qualquer naipe, mas apetece-me começar pelos trombones. O mais 'antigo' continua a precisar de estudar a lição número 1 do solfejo, o outro está constantemente sob o efeito de substâncias menos lícitas e modificadoras do raciocínio. Isto num só naipe. Nos vizinhos do lado, temos o colega B. e a sua insaciável necessidade de expressão. Não há uma rapsódia popular em que não me chegue a voz melodiosa do dito rapaz. E eu estou quase na outra ponta da formatura, na sala de ensaios. Ao lado, as tubas e o contra-maestro que rege a 3 as músicas da tourada (que, fica registado, são a 4!). Perto de mim, os saxofones. E se, há algum tempo atrás (antes de eu ter feito a pausa de um ano a serviços e ensaios) nada havia a apontar, eis que agora começamos a descobrir-lhes alguns podres. E, se não podemos apontar o dedo à pré-escola de garotos que foram chutados da Escola de Música para a Filarmónica, podemos certamente fazê-lo aos da minha geração. E, não querendo descer o nível (na esperança de que o B. o faça no seu comentário) não me pronuncio mais acerca deste assunto. E desenganem-se ao pensar que não tenho a decência de detectar as falhas dentro do meu próprio naipe! A nossa chefe, por obrigações da vida das pessoas crescidas, não está presente há um ano. E eu, vice-chefe, fui quase promovida para um lugar cobiçadíssimo. E vejo, lá do alto do meu poleiro, bracinhos que se esforçam por me gamar os papéis de primeira Flauta. Mas, ide com o caraças, há que comer muito cerelac antes de cá chegar! Também eu toquei, com todo o orgulho e cagança, os papéis rasonhos de oboé, de terceira e de segunda flauta! E, imaginem lá, ainda bem! Mal seria da ambição para ficar com os solos antes de saber ler uma partitura - e fazer a borrada que a outra fez no concerto de Natal, nunca me irei esquecer! E sim, há alturas em que queria ser dos clarinetes. Raramente têm crises, lá consomem as suas substâncias e conseguem tocar tudo direito. Fantástico, não é? Substancialmente melhor, a nossa percussão. Os dois palermas lá continuam, mas isso será sempre uma causa perdida. Felizmente, conseguimos perder uma aspirante a percussionista (e seus botins envernizados) e ganhar um puto com algum sentido de ritmo. Há esperança!
E assim continuamos, todas as sextas-feiras a partir das 21:30h. Agora a ensaiar as (feíssimas) músicas para as procissões e arruadas das festinhas de Verão. Piscando o olho, no final do ensaio e num grupo seleccionado, aos nossos anos dourados - quando tocávamos o Fantasma da Ópera, os Piratas das Caraíbas e a Alda. Para estes também há esperança. Só não há músicos!

P.s. Aparentemente, continuamos a ser "patrocinados" pelo tio Jacob de Haan, ou o maestro comprou as partituras todas num pacote promocional.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

porque o mundo é um momento.

momento 1

É noite de Serenata. O jantar de curso, o primeiro que esta (minha) comissão organiza, foi bom. O Braga ganhou e vai à final contra o Porto. As minhas afilhadas ficam lindas de Capa e Batina - e as afilhadas das outras também não ficam mal. Cantamos os hinos do curso, os hinos de tudo e mais alguma coisa. E bebemos, bebemos, bebemos. Chegada a hora, vamos para a Sé Velha. Ou tentamos, porque já todas as ruas são pequenas para tantos estudantes e turistas. Ficamos na lateral, sem vista para as guitarras. O som não é mau, ainda se ouvem alguns acordes. Nos primeiros, traçamos Capas. Com palavras e muitas lágrimas deixam de ser caloiras. Acabou! Depois do terceiro tema deitamo-nos no chão. A L. adormece, com a cabeça encostada ao meu joelho. A R. continua acordada e, baixinho, vamos falando nem sei de quê. Com o céu em cima, reparei que não havia estrelas - estava tudo preto. E disse: "R., hoje não há estrelas". Ela responde-me, no mesmo tom melancólico e nostálgico de quem esta na Serenata: "Pois não". E faz aquela pausa que só ela sabe fazer, apenas para acrescentar (com a mesma suavidade), que as "putas do caralho, fugiram."

momento 2

É noite de Queima, não sei qual. Ainda não fui ao recinto, mas prometi que ia depois deste jantar. Na varanda de casa da M. reconheço outra varanda. Ligo à S. e vejo-lhe o vulto, a passear junto à janela da sala. Estão ali, eu também devia estar. E afinal estamos perto, estamos juntas por telemóvel. Depois descubro que tu não estás em Coimbra, faço birra. Fico amuada e sem jeito. E queria falar, queria perceber. Mas foi muita vodka, e não conseguia fazer nada disso. Nem tu querias, valha a verdade. Fiquei mal disposta com aquilo tudo, até com as bifanas. Não sei o que me deu, agarrei-me ao lava-louças e a T. agarrou-me o cabelo. Não foi bonito, mas tive a decência de lavar a cara e sair, já com as chaves de casa na mão. Ía a passar o Botânico quando a R. me ligou, e eu sem saber onde estava. Deixei cair as chaves, foi um tormento. Depois liguei de volta. "Olha, ganhámos a Eurovisão?". E não, porque era só a semi-final e nem daí passámos. Fiquei inconformada, eram dois desaires numa noite. Quando cheguei a casa o pijama fugiu-me e a cama abanava como uma rede. Mas dormi bem, acordei feliz e aproveitei uma das melhores ressacas de sempre.

momento 3

É um dia qualquer, sei lá. Decidi baldar-me a tudo por uma tarde, fazer greve e ir passear. Escolhi as galerias do Santa Clara, porque tem boa música e um sumo de laranja natural muito delicioso. Apanhei o 6 no sentido contrário, como de costume, e fui dar a volta toda pelos HUC antes de passar a ponte e sair na paragem perto do Portugal dos Pequenitos. Levei a mala castanha, quase rota, cheia de revistas e livros e jornais. Entrei como quem conhece a casa e escolhi o melhor sofá, na esplanada coberta. Se o rapaz que andava a servir às mesas soubesse ler caras (como aquele homem da série das mentiras) escusava de me ter perguntado o que queria e, depois, se queria com gelo. Fiquei lá umas horas, li a revista de uma ponta à outra e corri algumas notícias do i. Depois pensei em como é que me ia desemerdar sem ti. E, olha porra, não será difícil. Voltas quando quiseres, a T. garantiu-me que sim.

momento 4

O dia da razão. T., alegra-te: tinhas razão. E eu tive de admitir, por mais voltas interiores que isso me provoque! Mas, felizmente, tinhas razão. Com duas ou três mensagens carinhosas (amorosas, arrisco dizer) voltámos ao "normal". O que ainda não é bom, não me satisfaz. Sabes, devo ter aquele desejo de requinte que só um Ambrósio qualificado pode saciar. Mas estamos no bom caminho, o que é muito favorável - sabendo das semanas em que o meu telemóvel não tocou, por ti, uma única vez. E agora, anda, corre atrás de mim. Faz-me falta aquela caneca de cevada instantânea (que, continuo a afirmar, fazes melhor que ninguém), na varanda da cozinha. Se isto fosse o Facebook punha um gosto. E tu, outro. Mas ainda não é para já, não mereces uma cantiga de amor à moda antiga.

momento 5

Ontem caiu-me um dente. E nem foi bem 'cair', porque o arranquei. Mas a culpa foi dele, porque não parava de sangrar. Felizmente, ainda era daqueles que mudam até aos 10 anos - os dentinhos de leite, que a fada depois leva. Que extraordinário a minha dentição ser ainda tão infantil, mas creio que eliminei o último resquício de adolescência. Agora tenho um gigantesco buraco, o que acaba por não ser melhor - logo aqui tão à frente, que se vê tão bem em qualquer sorriso.
Hoje fui para o café, matar saudades da happy hour e do jogo dos patos. Falhei só uma ou duas vezes, por desconcentração e nada mais. O mesmo não se aplica às restantes, verdadeiros nível 0 nestes jogos de quem-falha-bebe. Com um andar mais ligeiro, fomos jantar. Depois de quase meia-hora às voltas com a lista acabei por escolher uma espécie de pizza, só que enrolada e com as coisas todas lá no meio. Modernices, diria a minha avó. A sangria escorreu como água do rio, ligeira como o nosso andar. E acabou a festa, que amanhã ainda é dia de trabalho, de madrugar. Na rua que sobe até ao Botânico, reparei nos teus olhos. Pelo reflexo no espelho, um plano fechado só de ti. Eu, muito encantada, desconfio que quase não falei nesses 5 minutos de contemplação. Ninguém deu por nada, prometo-juro. Mas eu vi. Brilham, e não é com photoshop.

sábado, 14 de maio de 2011

ela voltou!

Tenho andado inquietada, com vontade de vir aqui escrever. E não me tem faltado assunto, entre chatices e jantares! Fui adiando, não sei bem porquê. Até que decidi que não passava de hoje, tinha de ser. E, já nem sei onde, descobri que a Rosinha tem um novíssimo trabalho discográfico! Caraças! E eu que vinha pr'aqui com merdas, com neuras! Abençoada Rosinha, isto sim é coisa digna de se registar! O meu dia, que começou com um brutal madruganço, seguindo de crise de preguiça e filmes, para terminar a manhã a ler jornais no Cartola, deu uma grandessíssima volta! Rosinha, muito obrigada!



Rosinha prepara já a temporada de Verão, numa capa (e contra-capa) que transborda água e minhocas, mas onde há ainda espaço para a sua cana-de-pesca, lancheira, acordeão, dançarinas e os habituais óculos (que já há muito ofuscaram a mania do Pedro Abrunhosa).


Como está provado nos títulos das canções, Rosinha continua refinada na escolha dos assuntos e muito delicada na sua abordagem. Do que ouvi, destaco a enternecedora descrição da maneira como come camarões (que são sempre "grandões", como refere muita vez). Diz que "come tudo", até ficar satisfeita. E que a desculpem, porque ela é mesmo assim. Isto tudo na faixa 6. Não indiferente à crise, faz questão de alertar o seu conjugue do interminável rol de indivíduos que abusam da conta da mãe dele. E claro, a senhora é que paga a despesa no final do mês - apenas porque tem a conta aberta, nalguma mercearia, suponho. Saving the best for last (ela fez o contrário, porque é a faixa número 1), eis o single! E aqui fica dissolvido o mistério acerca das minhocas da capa! Este disco tem como tema base a pesca, actividade de fim-de-semana na qual a artista participa - porque o menino não é capaz de colocar a minhoca no anzol, embora seja muito bom na cana, e estou a citar. E, como também já é costume, o single já é promovido com um finíssimo videoclip! Muito teatral, gravado nos jardins ao lado do CCB e no bonito passeio do ao lado do rio - onde, então, se pesca. Olhem, recomendo imenso muito! Fica o link.
E afinal, que caraças, andava eu tão entediada com assuntos sem importância! Como disse o Fadista: "neste Mundo afinal / vendo bem nada vale mais / que uma cantiga". E é verdade. Ide ouvir Rosinha, não há neura que resista!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

não sei falar disso.

Pensei que fosse óbvio. Julgava que meio-mundo já tinha percebido, mas os sinais enganam. Interpretar é uma treta, ter de ler cada palavra mil vezes para tentar perceber se afinal queres ou não. É um quebra-cabeças diário, constante. Mas amuei, como as crianças, e não quero brincar mais. Não quero conversas dúbias, olhares trocados nem a treta do umbigo. Não, que o tapete foge. Quero beijinhos de boa noite, de bom dia e de boa tarde. Tudo aquilo a que tenho direito. Mas quero que saibas que quero mais, que os quero a sério. Que se lixem os telemóveis e o facebook.
Habituei-me a que digas que não, por brincadeira. Não me magoa quando o fazes, nem se o fizeres agora. Prometo, juro, que é tão simples como das outras vezes. Não vai haver cenas de joelho no chão, dedicatórias em cartolina (como as que havia nos portões da Secundária). Isso custa muito, mata. E, afinal, nem é assim tão complicado falar disto - até um baralho de cartas do chinês consegue! Então, fica escrito: gosto de ti. Não digo a outra palavra porque soa mal. Como ela diz, a protagonista do meu filme preferido, "se calhar é por ser em português. Quando se sente é bonito, mas quando se diz parece ridículo. Percebes?"