terça-feira, 31 de julho de 2012

o poema da verdade.

(fui roubar palavras.)

prometo ser-te fiel se mo fores
também, não é certo que mo venhas a
ser. por isso, já to perdoo

prefiro partir assim para o resto da
vida. assim, com os olhos abertos à
frustração e talvez à vulnerabilidade

não prevejo nada em concreto, acredita,
não tenho olhos para outras moças,
só o digo assim por ser verdade

que tarde ou cedo havemos de encontrar
nos outros motivos de inusitado
interesse, e depois, pergunto,

vale mais que acordemos um amor
sobreposto ao futuro, um amor agora
que tenha conhecimento do futuro

e não esperar mais nada senão
a verdade. a decadente verdade que
chega já depois dos primeiros beijos.

Valter Hugo Mãe, in Contabilidade

sexta-feira, 27 de julho de 2012

#1

Disse alguém muito sábio: "Sê paciente e serás feliz. Mas confesso que estou farta de ser paciente."  Obrigada, o teu anonimato é bonito e já me ganhou o dia.

and in that moment.

Não entendia porque é que "desejar" é sinónimo de "procurar". Mas até faz algum sentido, percebe-se. E a verdade é que te procurei, num sentido muito geral e sem saber quem eras. Encontrei-te, quase tropecei em ti. O desejo veio depois, quando não soube interpretar essa vontade crescente, gigante, de te procurar melhor. Quando ainda era tudo feito aos tropeções, sem nenhum conhecimento de causa. Sem nenhum passado que me dissesse quem éramos. Naquela altura bonita em que não era preciso enfiar-te (a ti e a mim) numa categoria apertada, quando eu podia traduzir-te numa palavra começada por A. Hoje ainda fazes parte de tudo. És como um trailer de todos os filmes que vejo, e nos que vivo há sempre um deixa que é tua - que foi tua. Em nada és inocente, em nada deixas de existir. Em tudo o que é escondido. Marcas na pele, botas pretas de cano alto e aquelas músicas que nunca conseguimos partilhar. Não se ama alguém que não ouve a mesma canção.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

ser fraca

AVISO: se nunca ouvi falar deste assunto, ignore tudo o que segue pois a compreensão errada dos factos poderá conduzir a conclusões disparatadas.
___________________________________________

Comecemos pela definição de um dicionário online.

fraco
adjetivo
1. que não tem força; que não tem energia física; débil
2. franzino; sem robustez
3. que não tem força de vontade; que se deixa abater com facilidade
4. cobarde; pusilânime
5. frouxo; brando
6. pouco consistente; pouco resistente
7. influenciável; pouco firme
8. que erra facilmente
9. que sabe pouco sobre algo; que não domina um assunto ou matéria
10. pouco intenso; pouco ativo
11. pouco significativo; insuficiente; medíocre; mau




















Sei que não vieste aqui para ler esta definição, claro, isto é o que podes encontrar no google em 30 segundos de pesquisa. O que te interessa é outra definição (a minha?). A explicação de uma teoria que levou três anos a desenvolver-se, uma tese, um tratado que escrevi mentalmente e ao qual adicionei provas factuais sempre que tal se proporcionou - tantas e tantas vezes, há testemunhas! Então, para que não haja mal-entendidos nem problemas de expressão, tentarei explicar-me como se tivesses 2 anos, ou 3. Usaremos um sistemas básico de pontuação, como fazem as revistas de adolescentes, e no final me dirás se (como desconfio) és fraca ou (raro, raríssimo) não és. Let the games begin! Ser fraca é: 

1. Duvidar (2pontos)
Começamos por um aspecto complicado. Calculo que estejas já a duvidar de mim e da seriedade da minha teoria - o que, à partida, não faz de ti fraca mas apenas esperta. Este primeiro ponto do esquema não deve ser entendido num sentido literal do termo, mas abrindo os horizontes da dúvida para uma constatação muito simples: uma fraca não sabe o que quer, e tem medo do que possa encontrar. Seja essa indecisão verdadeira ou falsa - claro que no primeiro caso não é tão grave (poderá apenas ser infantil) mas pode esconder, se for falsa, a negação daquilo que, afinal, sempre se soube. O que nos leva para um segundo ponto.  

2. Não assumir (2pontos) 
É o comportamento típico quando aquilo que se sabe não é o que se gostaria de saber. A reacção pública desta escolha é quase tão discreta como seria um elefante a dançar num nenúfar. Facilmente detectável, mais para uns (os que têm o dom) que para outros, requer excelente arte de dramatização e pode transformar tecido cerebral viável em gelatina de tuti-fruti. Apenas um bom mestre poderá tentar manter o elefante ao cimo da água mas, mesmo assim, não deixará de sentir o peso e acabará por afundar. Todos afundam, é uma questão de dias - ou de anos. 

3. Trair (3pontos) 
Ah, o grande golpe. É banal e pode ser repetido mais que uma vez, recorrendo à originalidade do artista. Poderia escrever um livro sobre o tanto que já vi ser feito nesta área. Há quem recorra aos ex- e quem crie falsos "futuros", se bem que o prémio final vai para as grandes artistas que conseguem conjugar passado-presente-e-futuro no mesmo lugar e à mesma hora. Coincidências. É muito feio e condenável enfiar um chapéu de vaca em cabeça alheia.

 
4. Sofrer de gula (2pontos)
O que se relaciona com o ponto anterior. Porque a relva é sempre mais verde do outro lado da cerca, há muito animal de quinta que não consegue controlar o seu pastoreio. Nem Deus nem o celebrante de um casamento civil (desculpem-me que não sei o nome técnico do individuo que realiza o acto) tiram a visão aos noivos quando os declaram solenemente casados.. mas também não posso concordar inteiramente com os que dizem que olhar e pensar não contam como apetite. "Comer com os olhos" é sofrer de gula, se não fosse não se diria "comer".  

5. Causar inveja (1ponto) 
A felicidade é incómoda para quem não a vive - não me incluo neste lote, seja claro! Mas sei de fonte segura (é o que me dizem) que a inveja é um sentimento podre que corrompe o organismo todo. Há relatos de criaturas com estados febris causados por ver que outros têm o que se deseja mais. E, claro como água (ou vodka, que é igualmente transparente), a inveja é coisa de evitar. Traduz uma guerrilha infantil de miúdas que arrancam cabelos para brincar com uma única Barbie. Se são duas e só há uma, e se partilhar estiver fora de questão, há que aprender a viver com a vitória ou com a derrota. Esta última é mais amarga, mas é melhor procurar outro favo onde haja mel do que viver constantemente com o ferrão da abelha-rainha espetado em parte incerta. 

Fiquem com o sistema de pontuações.
0-1: Não és fraca, és feliz.
2-4: Aprendiz
5-6: Estagiária
7-8: Profissional
9-10: Rainha
E chegamos ao fim, caros amigos e amigas. Agora sim, digam-me que sou idiota porque levei anos a compilar estas verdades tão banais. É um facto, não tenho nada com que argumentar. Mas, não fosse eu, os vossos fins de tarde e de noite não teriam assuntos interessantes para debater! Feliz por contribuir, continuarei disponível para esclarecimentos adicionais.



Princesinha

(sinto necessidade de deixar um esclarecimento prévio, pois nada do que se segue te diz respeito; nada tem que ver contigo, nada foi inspirado no que me ensinaste, nada te pertence nem te está associado; qualquer semelhança será obra do acaso, a mais pura das coincidências)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

continuação.

(Não é artifício de escrita, isto é mesmo uma continuação e devia ler primeiro o post anterior).

Já o calor é um caso mais sério. A verdade é que facilmente me aborrece, rouba-me toda e qualquer pequenina vontade de pegar numa história e passar para o papel. Não consigo escrever ao sol, este ano nem tentei. Nestes meses desgraçados o corpo só pede coca-cola com gelo e limão, ou café com gelo, ou Beirão com gelo e limão (seja espremido, com casca ou sem). Ou pior, pede martinis que, em número superior a dois, dão início de uma tormenta de calores internos que supera as marcas do bronze nas costas. Também é facto, e não menosprezado, que uma boa esplanada (como essa, que tenho a honra de frequentar) é sempre um espaço criativo em pleno: a música é de excelente qualidade (ainda hoje correu o cd da Joss Stone, gravado ao vivo num sítio qualquer), a bebida é fresca, costuma haver uma aragem passageira, e o gerente/funcionário do espaço é de um charme apenas comparável ao do Martini-Man, Mrs Clooney. Mas lá está, mais me ajuda este raciocínio, é disto que me aborreço. Está sempre por ali um bom conjunto de gente que dava uma boa história (gente que tem, digo eu, boas histórias). Mas o abrasado do calor só me dá para barrar protector solar, factor 30, em tudo quanto é pele exposta, nunca para agarrar uma caneta e divagar. Nunca. E agora, se escrevo, não se iludam, é apenas porque tenho o quarto climatizado a 18 graus. Estou de pijama e robe de inverno, com gorro na cabeça e meias nos pés. É o que digo, o calor não favorece o artista, muito menos a miúda que quer escrever para ganhar a vida. E que seja uma dessas confortáveis, que vá permitindo, nos intervalos destas tardes solarengas, ir num avião low cost tomar um café em malga xl a um sítio frio e distante. Ou, já que compensa, beber uma dessas cervejas que cheira à broa de milho da padaria da vila.

o orgulho e uma cerveja.

Numa terra fria e distante há um bar maravilhoso. Eu, desentendida do dialecto local, não percebi o nome inscrito, em letra velha, acima da porta e janela. Nem sabia, aliás, pronunciar tais palavras. Foi só com o google tradutor que, meses depois, soube que estive no "Orgulho da Margarida" ou na "Margarida orgulhosa" - nunca fiando nessas traduções fracas.


Mas voltando ao bar, entrem. É uma espécie de pub, muito ao estilo das terras frias e distantes, onde se servem cafés em pequenos tabuleiros com bolachas, fatias de bolo, chocolate, natas e açúcar. O café em si, claro, é péssimo e a chávena é do tamanho de uma taça do caldo verde. As bolachas ou o bolo são sempre melhores, e o chocolate (ou nougat) é delicioso. Neste bar, como noutros que lhe são vizinhos, o café é tão caro que sempre compensa beber uma cerveja. Há uma lista, numa capa de folhas plásticas como as da escola, com nomes e indicações que não se entendem. A escolha segue a linha dos números da lotaria, só que o retorno da aposta é tendencialmente mais agradável.


Há bebidas destas que sabem a cerejas e outras que sabem a pão frio, com espuma branca. Dos mil sabores da lista percebem-se (a custo) as frutas: pêssego, maçã e uma outra que se podia jurar ser de uva. São sempre muitos frias e depois muito quentes, quando dentro do corpo. O que é bom porque ajuda a superar o grau zero que corta as ruas e nos vem bater nas esquinas, quando há vento. 


Foi ali, precisamente no lugar que está vago da minha ausência, que comecei a escrever uma história com a ganância idiota de um dia ganhar um prémio e muito dinheiro. Sempre achei que o frio me estimula as ideias, como se me encasulasse o corpo todo para o cérebro (e outros órgãos criativos). É no frio que nunca me dá para cometer disparates, pois é-me mais confortável o calor artificial de uma boa manta Quechua. Mais se acrescenta que é nos meses de inverno rigoroso que o consumo dessas bebidas me agradava particularmente, uma vez que o corpo não desata a produzir hormonas e suores, direccionando tudo para uma excitação cerebral - que, agradeço, me deu já umas quantas ideias.

(nota: continua...)