quinta-feira, 19 de maio de 2011

porque o mundo é um momento.

momento 1

É noite de Serenata. O jantar de curso, o primeiro que esta (minha) comissão organiza, foi bom. O Braga ganhou e vai à final contra o Porto. As minhas afilhadas ficam lindas de Capa e Batina - e as afilhadas das outras também não ficam mal. Cantamos os hinos do curso, os hinos de tudo e mais alguma coisa. E bebemos, bebemos, bebemos. Chegada a hora, vamos para a Sé Velha. Ou tentamos, porque já todas as ruas são pequenas para tantos estudantes e turistas. Ficamos na lateral, sem vista para as guitarras. O som não é mau, ainda se ouvem alguns acordes. Nos primeiros, traçamos Capas. Com palavras e muitas lágrimas deixam de ser caloiras. Acabou! Depois do terceiro tema deitamo-nos no chão. A L. adormece, com a cabeça encostada ao meu joelho. A R. continua acordada e, baixinho, vamos falando nem sei de quê. Com o céu em cima, reparei que não havia estrelas - estava tudo preto. E disse: "R., hoje não há estrelas". Ela responde-me, no mesmo tom melancólico e nostálgico de quem esta na Serenata: "Pois não". E faz aquela pausa que só ela sabe fazer, apenas para acrescentar (com a mesma suavidade), que as "putas do caralho, fugiram."

momento 2

É noite de Queima, não sei qual. Ainda não fui ao recinto, mas prometi que ia depois deste jantar. Na varanda de casa da M. reconheço outra varanda. Ligo à S. e vejo-lhe o vulto, a passear junto à janela da sala. Estão ali, eu também devia estar. E afinal estamos perto, estamos juntas por telemóvel. Depois descubro que tu não estás em Coimbra, faço birra. Fico amuada e sem jeito. E queria falar, queria perceber. Mas foi muita vodka, e não conseguia fazer nada disso. Nem tu querias, valha a verdade. Fiquei mal disposta com aquilo tudo, até com as bifanas. Não sei o que me deu, agarrei-me ao lava-louças e a T. agarrou-me o cabelo. Não foi bonito, mas tive a decência de lavar a cara e sair, já com as chaves de casa na mão. Ía a passar o Botânico quando a R. me ligou, e eu sem saber onde estava. Deixei cair as chaves, foi um tormento. Depois liguei de volta. "Olha, ganhámos a Eurovisão?". E não, porque era só a semi-final e nem daí passámos. Fiquei inconformada, eram dois desaires numa noite. Quando cheguei a casa o pijama fugiu-me e a cama abanava como uma rede. Mas dormi bem, acordei feliz e aproveitei uma das melhores ressacas de sempre.

momento 3

É um dia qualquer, sei lá. Decidi baldar-me a tudo por uma tarde, fazer greve e ir passear. Escolhi as galerias do Santa Clara, porque tem boa música e um sumo de laranja natural muito delicioso. Apanhei o 6 no sentido contrário, como de costume, e fui dar a volta toda pelos HUC antes de passar a ponte e sair na paragem perto do Portugal dos Pequenitos. Levei a mala castanha, quase rota, cheia de revistas e livros e jornais. Entrei como quem conhece a casa e escolhi o melhor sofá, na esplanada coberta. Se o rapaz que andava a servir às mesas soubesse ler caras (como aquele homem da série das mentiras) escusava de me ter perguntado o que queria e, depois, se queria com gelo. Fiquei lá umas horas, li a revista de uma ponta à outra e corri algumas notícias do i. Depois pensei em como é que me ia desemerdar sem ti. E, olha porra, não será difícil. Voltas quando quiseres, a T. garantiu-me que sim.

momento 4

O dia da razão. T., alegra-te: tinhas razão. E eu tive de admitir, por mais voltas interiores que isso me provoque! Mas, felizmente, tinhas razão. Com duas ou três mensagens carinhosas (amorosas, arrisco dizer) voltámos ao "normal". O que ainda não é bom, não me satisfaz. Sabes, devo ter aquele desejo de requinte que só um Ambrósio qualificado pode saciar. Mas estamos no bom caminho, o que é muito favorável - sabendo das semanas em que o meu telemóvel não tocou, por ti, uma única vez. E agora, anda, corre atrás de mim. Faz-me falta aquela caneca de cevada instantânea (que, continuo a afirmar, fazes melhor que ninguém), na varanda da cozinha. Se isto fosse o Facebook punha um gosto. E tu, outro. Mas ainda não é para já, não mereces uma cantiga de amor à moda antiga.

momento 5

Ontem caiu-me um dente. E nem foi bem 'cair', porque o arranquei. Mas a culpa foi dele, porque não parava de sangrar. Felizmente, ainda era daqueles que mudam até aos 10 anos - os dentinhos de leite, que a fada depois leva. Que extraordinário a minha dentição ser ainda tão infantil, mas creio que eliminei o último resquício de adolescência. Agora tenho um gigantesco buraco, o que acaba por não ser melhor - logo aqui tão à frente, que se vê tão bem em qualquer sorriso.
Hoje fui para o café, matar saudades da happy hour e do jogo dos patos. Falhei só uma ou duas vezes, por desconcentração e nada mais. O mesmo não se aplica às restantes, verdadeiros nível 0 nestes jogos de quem-falha-bebe. Com um andar mais ligeiro, fomos jantar. Depois de quase meia-hora às voltas com a lista acabei por escolher uma espécie de pizza, só que enrolada e com as coisas todas lá no meio. Modernices, diria a minha avó. A sangria escorreu como água do rio, ligeira como o nosso andar. E acabou a festa, que amanhã ainda é dia de trabalho, de madrugar. Na rua que sobe até ao Botânico, reparei nos teus olhos. Pelo reflexo no espelho, um plano fechado só de ti. Eu, muito encantada, desconfio que quase não falei nesses 5 minutos de contemplação. Ninguém deu por nada, prometo-juro. Mas eu vi. Brilham, e não é com photoshop.

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