Quando cheguei vinha triste com o país. Com ideias de emigração, para um cantinho onde não se falasse da crise e do FMI. Para cúmulo, o iPod achou-se no direito de me bombardear com sambas e ritmos sincopados. Ia embalada naquilo, fiz por não ouvir a Gina e a Lena a discutir cremes para as rugas do pescoço. Com a música, olhava pela janela e parecia tudo feio. O shopping gigantesco, visto da ponte, era como um monte de caixas de transporte de bichos. Era tudo feio. E eu queria mudar de país, porque este era feio, já disse, triste e sem graça. Mas com a mesma facilidade dos sambas, o sacana do iPod seguiu para um fado. Quase uma marcha, Raquel Tavares - Lisboa garrida. E eu, naquela passagem de pandeiros a guitarra portuguesa mandei a mão ao peito e, Deus me perdoe, benzi-me com a esquerda. Arrependi-me até à espinha do outro sentimento anti-pátrica e num 'ai' voltei a amar a casa. A mesma janela da carrinha mostrou os mesmos prédios feios, empoeirados em cinzento - e eu já via quatro paredes caiadas e cores, muitas cores, todas as do catálogo da Robbialac. Os meus olhos, doidos, procuraram o Tejo. Esquerda, direita, olhava e torcia-me no espaço do meu banco, no canto. Espreitei atrás dos centros comerciais, dos prédios e dos barracos das associações culturais e recreativas. Nada de Tejo. Passaram-se os 3 minutos e 5', mudou o fado para uma música de ir à praia (que eu até gosto, tem dias). Irritada com o Tejo, e com a música, programei o aparelho: agora só dás fado. Depois apareceu o rio, onde eu o deixei em Agosto. Igualzinho. A carrinha fugiu dele, direcção Loures. Desculpa, hoje não vim para te ver. Fecharam-me todo o dia na escola da polícia, no congresso. E eu queria a tarde, o fim do dia, ir à fadistagem. Fugir e correr Alfama. Levaram-me ao Vasco da Gama e de volta a casa, para comer e dormir. Havia copos de vinho tinto na mesa, mas a renda da toalha não me deixava sair do sítio - nem em sonhos. Ainda era cedo, muito cedo, quando me prepararam a cama - que, de dia, é sofá. Embrulhei-me nas mantas e mandei as boas noites. Depois Coimbra mandou-me um beijo e, antes de adormecer, o iPod lembrou-me que não me dou longe de ti - já diz o Zambujo. É venerar Lisboa e amar Coimbra. Longe de mim ter dois amores - isso seria muito pimba.
4 comentários:
Anda aí uma depressão(zita)??
credo. longe de mim tal coisa!
e viva o vasco da gama... mas sem presentes... (ainda espero o dvd com uma edição da mais altíssima qualidade)
viva os pobres, isso sim ;)
o dvd está em processo de cópia em quantidades imensas de grandes.
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