terça-feira, 15 de março de 2011

quem faz um filho.

Na tarde de sábado, entrei as 14h para atender um pai que queria inscrever o filho. Foi só tratar dos papéis e marcar horário - o meu último furo livre, eis o fim dos meus minutos para café, depois do almoço. Depois disso os alunos vieram todos, até às 19:30h. O dia tinha começado cedo, com uma deslocação até ao Tojeiro, para apoiar com guitarra o semi-oficial Grupo de Jovens de lá. Em casa só agradeci à minha mãe o almoço e foi uma corrida para chegar a horas. Com isto, no suposto primeiro dia de descanso, chegaram as 17h (e a última aula de flauta) e eu já sem cabeça para as notas trocadas e o som irritante de quem está a aprender. Para aprimorar o dia, na última aula de iniciação musical, o senhor (que já tem 50 e muitos anos e mãos de pedreiro) apareceu, como se esperava, bêbedo. E a missão que, num comum sábado, é impossível (porque com aquela vida não há cabeça que decore as posições das notas) foi muito para além disso. Com esforço, aguentei a primeira meia-hora. Mas como não me pagam assim tanto, acabei a aula por ali, e que se lixe. Já estava a olhar para o relógio, na ânsia de não perder a abertura dos telejornais. A manifestação havia de ter sido uma coisa digna, em grande e em bom. Entrei casa-adentro, lancei os dossiers para a mesa e eu própria para o sofá. Já não apanhei a abertura, mas felizmente fizeram um 'especial-informação' que durou mais de dez minutos, com entrevistas às velhotas que tinham ido reclamar um futuro para as netas - até me apeteceu ligar à Maria Albertina a saber onde andaria! As reportagens correram o país todo, e eu sem acreditar que eles não tinham ido. Lá estavam os Homens da Luta, numa carrinha com colunas muito mal atadas. A guitarra do Falâncio foi de mão em mão, por Rui Veloso, Fernando Tordo e Vitorino. E eu a bater palmas no sofá - e a minha mãe, enquanto aquecia a sopa, a dizer que eu sou 'doidinha'. Vi o telejornal até ao fim e ainda fui aos canais 24h. Corri a internet e a rádio. E era verdade: os Deolinda não foram. Em comunicado, informaram que não estariam presentes, e foi isso.
Portanto, não digam que eu sou da "Geração Deolinda". Isso seria tão mau como o ditado "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço". Porque fazer músicas é como fazer filhos: com gosto e com responsabilidade. Até há maneiras simples de emendar tudo no dia a seguir, mas não funciona com as cantigas. E se é para 'ser de alguém', como no futebol, prefiro ser dos "da Luta". Chamem-lhes 'doidinhos', irresponsáveis ou inconsequentes. Estiveram lá, e isso tem de contar. E vão à esquadra, e podem até não ir à Eurovisão - mas que importa, se eles já disseram que, mesmo desclassificados, apanham o avião e vão cantar nem que seja à porta? É que, por estes dias, confesso que é um alívio poder acreditar no que se diz, na confiança de que vai ser feito. E eu, quando disse que não fazia exame naquelas condições, não fiz. E saí do auditório. E já mandei cartas ao Director da Faculdade e ao Conselho Pedagógico - e continuo sem o exame feito, com a nota pendurada. E isso até me incomoda, porque sei que a minha mãe me chamou 'doidinha' - mas também vi que ficou contente porque, e como diz a minha avó, "meu dito, meu feito".

5 comentários:

Ricardo Tiago disse...

valente!!!! tenho dito!

A ta das Flores disse...

Queres ver que a cantiga é mesmo uma arma? Ó diacho!!

Ficarei muito ligeiramente preocupada?

odeioervilhas disse...

Tia,
não há razão para alarme. tenho muito bem guardado aquele power point do 25. Qualquer coisinha, vou lá aliviar a alma.
muito agradecida,
Mariana Pardal
12º F, número 9

sal disse...

like it!

odeioervilhas disse...

(bem-vinda às ervilhas) :)