quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Porto - Brussels (Charleroi)

Fui imprimir os bilhetes da Ryanair ao centro de cópias para estar tudo bem legível. Tinha a roupa toda escolhida e a mala pronta. E na véspera recebo um e-mail a dizer 'o seu voo foi cancelado'. Enquanto os Franceses não rebentarem com a porra do país, ou forem à tromba ao Sarkosy, os aviõezinhos não levantam. E à custa dos controladores aéreos andarem a brincar às greves, eu é que me lixo e fico em terra. As alternativas eram, basicamente, gastar o equivalente a 3 mesadas e implorar aos céus para que esse voo também não fosse cancelado.
Que se danem todos, um dia vou ser estupidamente rica e comprar um avião. E aí, Francius do caraças: kiss my ass.

Até pode soar muito mal, mas há alturas em que odeio o direito à greve.

domingo, 24 de outubro de 2010

go tell it on the mountais

Fiquei danada quando o despertador tocou às 9h. Mas isto hoje não era sábado? Porra. As 10h já estava no Senhor Doutor, de onde saí às 13h, directa para o almoço. Rica ementa: odeio jardineira (têm ervilhas, qual é a dúvida?). Depois de andar a brincar com elas no prato (a fazer smiles e outras criancices) declarei fim ao primeiro prato e saltei da fruta para o chuveiro, para um duche quente. O secador de cabelo dá sempre sono, estou ali mais de meia hora a aquecer o ar - cabelo, zero. Correr escada acima (e escada abaixo, porque deixei as folhas para trás), escolher o repertório da noite e imprimir as fichas para as aulas da tarde. Isto tudo numa hora, ou assim. As 16:38h estava a chegar (atrasada) à sede da Filarmónica para dar a aula de flauta à miúda - que ainda nem tem flauta. Só a minha infinita paciência! Depois, 5 minutos de intervalo para respirar e alinhar os chacras. Com o espírito muito mal aliviado, subi as escadas e lá fiquei uma hora com as crianças, na aula de formação musical. O teste diagnóstico era (quiçá) muito complicado - ficaram a olhar para mim tipo boi-palácio.
Às 18:30h fechei as portas, avisei na secretaria da minha ausência por motivos de visita à irmã que está na Belgique e segui em direcção ao Chinês. Já tinha comprado o tecido de manhã, a caminho do Senhor Doutor, portanto só faltavam dois pares de collants azuis, para as minhas caloiras usarem no cortejo. Entretanto, já o Bruno estava a ligar - e a aparecer -para irmos ao Inter fazer umas compras (basicamente, o jantar!). Com 3,50€ de sandes, batatas, fiambres e derivados, pastéis de nata e coca-cola ficou feito o manjar. Do Inter fomos para a Casa Paroquial, supostamente arrumar o salão e preparar o espaço para a reunião das 21h. Acabámos por acender a lareira, mudar os sofás e jantar na mesa do Padre. Nisto já eram horas de ir apanhar a boleia para São Silvestre - porque fomos contratados para ir animar uma festa de aniversário. No caminho, apanhámos o terceiro elemento: a Susi. Uma entrada triunfal e tudo muito emocionado com os nossos dotes vocais e instrumentais. Ficámos nisso até à 1h da manhã - depois pagaram o serviço e trouxeram-nos de volta a casa.
Agora, finalmente, estou na cama. A preparar as folhas com os cânticos para amanhã - e a ouvir músicas de Natal de qualidade duvidosa. Com este frio já começa a apetecer.

(dizia o prof. que a vida de jornalista é muito stressante, é andar sempre a correr de um sítio para outro e gostar muito daquilo que se faz. eu já estou em estágio - e até me pagam, mal ... mas pagam)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

casa abandonada.

É um espaço abandonado, o que sobrou de um ginásio que faliu à pressa e levou os móveis que havia para levar. A entrada (que era a saída) já não tem porta e a parede está escavada. O Rocha e o Fernando apresentaram-me aquilo no ano passado, quando foram roubar um aspirador e posters de tipas semi-nuas a publicitar calçõezinhos e bebidas energéticas. Apanhei um cagaço na sala de espelhos - era de noite e a luz do telemóvel não deu para perceber que era só o meu reflexo. Ontem voltei lá com as duas novas inquilinas da casa.
Ainda me lembrava do sítio das escadas, do sítio onde mandei uns berros - e do sítio onde estava o aspirador. Era outra vez de noite e só tínhamos as lanternas do telemóvel. O que eu não esperava era encontrar a porta do segundo piso aberta, depois do hall da recepção. Aí, era tudo novo para mim - e desta vez não tinha nem Fernando nem Rocha, só a Daniela e a Ana. Agarrei num cabo de vassoura e fui explorando o terreno semi-iluminado. Já não estávamos no ginásio. Ali eram os gabinetes e salas de um consultório privado de fisioterapia e estomatologia. Havia placas nas portas e tábuas a trancar a entrada principal. Na casa-de-banho ainda estavam pendurados rolos de papel higiénico e havia quatro sabonetes líquidos, já com a cor alterada, em cima do lava-mãos. O chão era alcatifado e as salas bem espaçosas - pelo menos agora, sem móveis. Não havia mais nada para descobrir no rés-do-chão. As escadas que subiam tinham muito pó e as aranhas começavam a instalar-se. No primeiro andar nada mais que uma porta semi-arrombada que ainda tentei, sem sucesso, abrir. As escadas até ao segundo andar eram ainda mais velhas, de madeira e com buracos em alguns degraus. A porta estava aberta e a fechadura tinha sido forçada com um pé de cabra (digo eu). Entrámos, o cabo da vassoura outra vez a abrir o desfile. Um corredor central e várias portas. Logo à direita a casa-de-banho, ainda com uma boneco colado na porta, em folha branca, ao qual alguém acrescentou a legenda "aqui obra-se". Daí para a frente eram quartos, alguns ainda com pedaços de papel de parede alaranjado, com sapos, e um espelho meio sujo. A última porta era a cozinha e tinha afixado um papel que dizia "comida quente e boa". Tinha fogão, forno, um armário pendurado na parede, um tanque, dois lava-louça e uma mesa pequena. Depois de deixarmos tudo revirado em conjunto, cada uma foi rever o que mais lhe agradou, antes de descermos as escadas até ao ginásio. Espreitei pelos quartos um a um. Nada de característico, nenhuma marca deixada pelo anterior habitante. Mas no último quarto, o que estava sozinho na ponta do corredor, dei com isto atrás da porta.

"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca
Palavras de amor, de esperança
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que tem beijam
Quando a noite perde o rosto
Palavras que se recusam
Os muros do teu desgosto

De repente coloridas
Entre palavras sem cor
Espetadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."

Alexandre O'Neill

Com a minha voz de ler poesia, corri o texto de alto a baixo. Li tudo sem parar, com a luz fraca da lanterna do telemóvel. Acabei e disse o nome do autor. Pensei que tivesse feito uma grande coisa, mas alguém do outro lado responde "achas que dá para levar o armário da cozinha?". E eu arranquei o papel da porta, meti no bolso e preparei-me para descer as escadas. Fica muito bem na minha parede, já não vou devolver.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

NK

Porque nunca me arrependo de ir ao Karaoke.
Abençoadas manhãs sem aulas e feriados da República. Hoje fico de cama, com chá de frutos do bosque. Nisto, lembro-me da toina que todas as noites vai cantar aquela música misto de kisomba com funaná - como se apenas um dos dois não fosse suficientemente poderoso. Mas ontem ainda foi mais bonito: um casalinho hiper-apaixonado (ela semi-nua, ele muito mal vestido) a cantar temas da Rita Guerra e não-sei-mais-quem um para o outro. Lindo, lindo, lindo. Mantendo a tradição de quando éramos caloiras rebeldes, ficamos até fechar e somos as últimas a abandonar o recinto, ainda a entoar um qualquer fado de Coimbra.
Porque nunca me arrependo de ir ao Karaoke - quinta-feira volto lá.