domingo, 2 de outubro de 2011

sem título.

Conheci esta loura porque me doíam os pés de passear na FNAC. Sentei-me num sofá, nem sei se podia, num canto com uma televisão. Ela já ia a mais de meio do concerto, indiferente aos meus pés doridos. A minha irmã, companhia e motivo das viagens nas estantes da literatura estrangeira, estava longe, entretida com os cadernos de viagens e os dicionários a traduzir tudo para português. Elas já se conheciam, eu é que não. Então ali fiquei, sentada, à espera que não me doessem mais. Nada mais havendo a fazer, vi televisão. Num palco arranjado, com muitos músicos de bom aspecto, estava a tal senhora, num grande piano de cauda com um microfone pendurado. Era uma boa imagem, um bom ambiente e um bom piano. Mesmo eu, que percebo tão pouco de pianos, vi logo que aquele era, certamente, um bom instrumento. Havia um maestro, uma orquestra, flautas e um negro nas percussões. E tudo muito arranjado, em tons de azul, preto e branco. Ela não tinha mãos de pianista, mas tocava, os dedos a brincar com as teclas e a cara tremia, fugiam-lhe uns sorrisos e uns trejeitos engraçados. Nisto estive entretida, passou meia-hora. A minha irmã ainda dava voltas nos dicionários, muito indignada por não haver nada do que queria. Depois fartei-me de ali estar sentada, incomodada com as pessoas que passavam e me viam a olhar para a televisão. Eu, com as pernas muito mal cruzadas e um casaco azul a jogar aos contrastes com o vermelho do sofá. Danei-me, assim é que foi. Virei costas a tudo, segui. Nisto, ainda eu estava aborrecida de ali estar, vejo a minha irmã já com um braçado de Garfields, Mafaldas e Asterixs. E olhos derretidos a apreciar as capas, depois devorava uma ou duas tiras e ria discretamente - não é verdade. Estendeu-me uns quantos, anda brincar. Não compramos nada, saímos de lá só com a memória de umas gargalhadas mais ou menos contidas.
Ontem, a 30 de Setembro, queria ter enviado por correio azul um montão de bandas desenhadas e dicionários e sofás vermelhos. Mas andei ocupada a fazer rotundas, piscas e estacionamentos. E só posso andar mal de memória, mal da cabecinha como diz a avó. Só agora, a abrir o mês de Outubro, é que me lembro da loura. She, maybe the face I cant forget. Ou talvez possa, valha-me deus. Afinal, nem título dei ao caraças da reportagem. Enfim, tudo tretas.