segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lisboa, Lisboa.

Perdi-me numa autoestrada. Quem é que se perde na autoestrada? Ninguém. Nem eu, normalmente. Mas também passei a primeira portagem com o carro na reserva, fui a rezar até à área de serviço de Monte-Redondo e depois a tentar fotografar as placas com as saídas para Peniche e outros sítios de férias. A porcaria da máquina só atinou já bem depois de Óbidos, onde parámos para comprar uns litros de água fresca. Cada vez mais perto da cidade, quando percebemos que devíamos estar na A1. As frequências do rádio iam enlouquecendo em grunhidos impercetíveis. O carro deslizava pelo alcatrão, todo pomposo com os seus pneus novos - e perdeu-se o tampão de uma roda, algures. Mas depois, mais perto, cada vez mais perto, aparece a sintonia daquela rádio maravilhosa. Já quase a chegar à saída para o aeroporto começa um fado. Uma onda brutal de saudade atravessou-me a tal ponto de abraçar o volante. Queria saltar para fora dos vidros. E o Bruno parvo a olhar para mim (esse filho da mãe que me acompanha sempre nestas aventuras, nunca tem bateria no telemóvel e raramente cumpre horários). Olhava e eu cantava, berrava aquele fado lindo. Maravilhada com tudo, perdi-me nos cortes e nos mil semáforos sempre vermelhos. Seguimos as indicações até Chelas, Olivais, Parque das Nações, FIL. Então sentiu-se um calor morto e abafado, o cansaço e as corridas entre cargas e descargas. Caixas, galinhas, inBags, marca ergue-te por todo o lado. Depois a decoração, e o amigo vitrinista que apareceu a dar dicas. Há também amigas e os seus namorados perfeitos, vizinhos dos stands ao lado e o senhor António que deita o olho às nossas malas, à troca de quando vai comprar uma cerveja nós olharmos pelas suas madeirinhas. Dentro da Feira parece sempre dia, tipo quatro da tarde com sol inclinado. Depois quando se volta a siar à rua já é outro dia, passa da meia-noite e eu à procura das chaves do carro, depois à procura da rotunda e do corte que não posso perder. E às vezes perco, e ando em voltas enormes e complicadas, cidade fora ao som da rádio Amália. E há poucas coisas melhores, por estes dias, que uma rádio que só dá Fado. As saudades (tuas) que eu tinha.