segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

senhor primeiro-ministro,

tenho o quarto todo desarrumado, sabe? E é um quarto bonito, não é muito espaçoso mas tem uma janela que dá para a rua e, para entrar, é logo a primeira porta à esquerda. Mesmo assim, deixei que o entulho crescesse como as silvas, tenho tudo espalhado por todo o lado. Às vezes, quando chega a sexta-feira já só um perito das minas e armadilhas consegue fazer o meio-metro que separa a cama da porta, ou o armário da secretária. As coisas estão todas perto umas das outras, é essa a única facilidade.
Isto aqui não é como em casa, aqui é uma balbúrdia. Lá estão os cobertores bem alinhados, com cores a condizer. As paredes branquinhas como se quer, a bater com os cortinados e os tapetes e os edredons. Se um tem riscas, o outro não pode ter. Aqui não, é tudo malhado, uns traços a bater nos outros. E lençóis daquela cor da escola básica (quando não se podia dizer vermelho) com mantas do FCP. O mural do facebook espetado na parede com post-its amarelos, mais uns posters fanados de um sítio qualquer.
A comédia que aqui tem lugar é de tal ordem que eu tremo toda quando a mãe estica a cabeça cá para dentro. Se ela visse, jesus! Fazia cá falta para me arrumar isto, nem que fosse só para me dar a ordem. Uma daquelas perguntas lixadas, a que eu nunca respondo. "Mariana, já arrumaste o teu quarto?". Caraças, ainda não.
Senhor ministro, olhe que a minha mãe faz falta ao país.