domingo, 27 de novembro de 2011

ser fadista é ser português.

"Última hora: o fado já é património mundial. Decisão aprovada no comité intergovernamental da UNESCO"

Tenho um telefone com a mania que é ardina. Já anunciou as melhores e as piores notícias, nunca uma que me tenha feito chorar. Lancei a mão a peito - ainda me lembro de quando quase-morri na casa dos fados de Alfama. Depois passou-me o espanto, não ouvi ninguém a cantar. E ainda hoje de manhã trauteava as canoas do tejo com a avó, de pijama. Demorei-me no carro, a fazer recados para o almoço, com o cd da Amália. E agora, fim de dia, morro de amores e de vontade de estar naquela mesa do canto, com bacalhau, vinho e bom fado. O fado sempre foi património, foi desde que nasceu.

luzinhas que tremem, que lindo que está!

Ninguém consegue pelo 1º de Dezembro para estrear os enfeites de Natal. A Escola de Música também já está decorada!

» árvore de Natal e respectivo embrulho (nota: tem dois jogos de luzes, por se considerar estético ter um deles intermitente e outro fixo - nunca saberei porquê)

» lindíssimo centro de mesa que eu própria idealizei e produzi em cerca de 7 minutos (materiais: velas, bolas e ramos roubadas da árvora, fita de embrulho e base de cartão velho)

» presépio da sala de professores embutido nas estantes - e desculpem a desarrumação.

» pormenor, com a luz a piscar; materiais: papel, cartão, cola e caneta azul do quadro; tempo: 10 minutos;



» decidimos também decorar o pessoal docente, o próximo passo será enfeitar os alunos com fatos, orelhas e meias de duendes. será todo um concerto de Natal .. !

domingo, 20 de novembro de 2011

Mariquinhas

Era uma miúda cheia de medo. A via-rápida era a highway to hell, o caminho da Serra (com mais buracos que chão) era uma viagem num carrossel-de-feira prestes a partir. Uma rotunda significava que um carro podia bater dos dois lados. Era tudo o caos, e os outros sempre umas bestas que me queriam matar. Era miaúfa, cagúfa, chamem-lhe os nomes todos. Só com os anos a passar é que percebi que as mãos do condutor nem sempre tem de estar no volante. Até é seguro deixá-las passear, não vem daí nenhum mal ao mundo. Eu é que não percebi que na maçaneta das mudanças cabiam perfeitamente duas mãos - desculpa. Foram os tempos de condução defensiva. E agora é diferente, agora posso raptar-te para um passeio, levar-te a dar uma volta. Quero guiar com as calças, mais ou menos como o Toy.

com classe.

A arte do bom savoir-faire não é coisa com que se nasça. Não é inerente à malta rica das juventudes partidárias, não é exclusivo de quem vai à missa nem de quem lê muita poesia. É uma coisa alternativa, que vai aprimorando. Uma espécie de escolha que, uns anos depois, ajuda a definir quem somos. Distingue o insulto com classe do que é ordinário e grosseiro. E é tão simples mandar alguém a Mafra com um sorriso colgate, ar de gala e boa disposição. Fazer buracos nas costas é deselegante, porra.

com classe, exemplo#1:

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

requintes.

a politiquice (particularmente, no ensino superior) tem requintes de malvadez tão deliciosos. quer se ganhe, quer não se ganhe, importa jogar com os ases escondidos. e quando menos se espera, caem os panos and it's show time!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

o regresso

estive tanto tempo sem aqui vir que agora não sei escrever para um blog. isto é meu? nem sei que vos diga. volto amanhã!

domingo, 2 de outubro de 2011

sem título.

Conheci esta loura porque me doíam os pés de passear na FNAC. Sentei-me num sofá, nem sei se podia, num canto com uma televisão. Ela já ia a mais de meio do concerto, indiferente aos meus pés doridos. A minha irmã, companhia e motivo das viagens nas estantes da literatura estrangeira, estava longe, entretida com os cadernos de viagens e os dicionários a traduzir tudo para português. Elas já se conheciam, eu é que não. Então ali fiquei, sentada, à espera que não me doessem mais. Nada mais havendo a fazer, vi televisão. Num palco arranjado, com muitos músicos de bom aspecto, estava a tal senhora, num grande piano de cauda com um microfone pendurado. Era uma boa imagem, um bom ambiente e um bom piano. Mesmo eu, que percebo tão pouco de pianos, vi logo que aquele era, certamente, um bom instrumento. Havia um maestro, uma orquestra, flautas e um negro nas percussões. E tudo muito arranjado, em tons de azul, preto e branco. Ela não tinha mãos de pianista, mas tocava, os dedos a brincar com as teclas e a cara tremia, fugiam-lhe uns sorrisos e uns trejeitos engraçados. Nisto estive entretida, passou meia-hora. A minha irmã ainda dava voltas nos dicionários, muito indignada por não haver nada do que queria. Depois fartei-me de ali estar sentada, incomodada com as pessoas que passavam e me viam a olhar para a televisão. Eu, com as pernas muito mal cruzadas e um casaco azul a jogar aos contrastes com o vermelho do sofá. Danei-me, assim é que foi. Virei costas a tudo, segui. Nisto, ainda eu estava aborrecida de ali estar, vejo a minha irmã já com um braçado de Garfields, Mafaldas e Asterixs. E olhos derretidos a apreciar as capas, depois devorava uma ou duas tiras e ria discretamente - não é verdade. Estendeu-me uns quantos, anda brincar. Não compramos nada, saímos de lá só com a memória de umas gargalhadas mais ou menos contidas.
Ontem, a 30 de Setembro, queria ter enviado por correio azul um montão de bandas desenhadas e dicionários e sofás vermelhos. Mas andei ocupada a fazer rotundas, piscas e estacionamentos. E só posso andar mal de memória, mal da cabecinha como diz a avó. Só agora, a abrir o mês de Outubro, é que me lembro da loura. She, maybe the face I cant forget. Ou talvez possa, valha-me deus. Afinal, nem título dei ao caraças da reportagem. Enfim, tudo tretas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

o dia

Olho para este blog com um ar gravíssimo de estranheza. A total ausência de mensagens subliminares a avisar os turistas do dia de amanhã é notável. Contive-me, desta vez. Culpo Espanha, por não me deixar tempo livre para perder na internet. Neste país, não consigo ter vida para férias porque, das duas uma, ou há um concerto muito brutal nos confins do mundo (e eu vou) ou a Escola de Música decide desabar-me em cima, com 14 crianças hiperativas - e musicalmente descoordenadas. E é nesta conjuntura que já é véspera de dia, e eu deixei a festa para os outros fazerem. Louvor seja feito à minha irmã e ao seu celestial tiramissú. Não ouso falar do cheesecake decorado com amoras verdadeiras (roubadas) porque o blogger tem limite de carateres. No meio do circo que é preparar um almoço+jantar de aniversário a senhora minha mãe optou por um novo corte de cabelo - muito na linha da Shakira, no videoclip da Rabiosa. Para completar (e finalizar) este bonito quadro festivo há a acrescentar chamadas telefónicas da Suiça e tu, TC, quando perguntas com o teu ar mais fofo "quem é que está quase a fazer aninhos?".

quinta-feira, 28 de julho de 2011

"vais falar aí da Dona Rosa?"

Estar de férias é partilhar a casa com muita gente e inventar receitas de frango no forno. É tomar banho nos regadores da relva e ter vizinhas que querem falar da operação ao joelho e das hérnias. Estar de férias é beber-cair-levantar!
Mas a vizinha, ai a vizinha. Não há Rosa como ela! Já me arranjou um frasquinho de alcool etílico (aquele das feridas que arde muito, perguntou para confirmar) e meia dúzia de folhinhas de louro para temperar o jantar. E nem quer um perninha de frango, porque há noite só vai mesmo um chá ou um leitinho e duas fatias de pão torrado.
E a Dona Rosa tem (mesmo) um vasinho de rosas à janela.

domingo, 24 de julho de 2011

clube dos 27

Não é o nome de uma casa de bingo nem de meninas. É um clube; o clube dos talentosos viciados que morrem cedo. Entre outros, Jimi Hendrix e Janis Joplin. Junta-se agora a Amy - a louca Winehouse. Eu acredito que isto na verdade é tudo uma armação para enganar a povaça e que eles estão todos reunidos na ilha do Elvis a jogar à sueca, beber umas coisas e fumar outras, cantar cantigas e fazer amor. Seja como for, muita paz. E, para a próxima, tenham juízo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

the bare necessities of life

Porque nestes dias a minha vida pode resumir-se, com toda a franqueza, a filmes, passeios, jantares e centros comerciais, festas, compras e calções. Sem esquecer a simpática senhora do mini-mercado que me descontou 50 cêntimos no pacote de rosquilhas, porque ficou muito orgulhosa por eu ter feito as cadeiras todas com relativa distinção. Não acredito que isto seja karma, ou bruxaria do género, são só as férias. O descanso, e a minha mãe com mil perguntas e inquietações. Vou iniciar a contagem decrescente: segunda-feira vai ser mesmo a sério. Ainda tenho de ir ao lidl comprar congelados!

é só mais um dia mau (ou: dorme bem, coração)


quarta-feira, 13 de julho de 2011

or don't give it to me at all



"Por muchas noches en blanco que una dedique a pensar en su biografia sentimental, la verdad, es que encontrara pocas soluciones. Podrá parchear tal o cual relacion, pero al final, volverá a pasar lo de siempre.. que en un momento dado saltara en pedazos. Como tantas otras veces! Porque uno es como es, y no es facil dejar de serlo para querer a alguien, es casi… un combate perdido de antemano. A si que lo mejor que nos podia pasar es que las relaciones sentimentales vinieran con fecha de caducidad, como los yogures. A si sabriamos de antemano cual es la fecha del final, y no perderiamos el tiempo en inseguridades, sospechas ni discusiones, nos dedicariamos a disfrutar cada momento hasta la ultima decima de segundo, aunque ... si lo piensas… lo bueno de no tener fecha de caducidad, es que nos permite seguir soñando , con que esta vez si, ese yogur, pueda conservarse para siempre."
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Agora a sério. Isto é como os iogurtes, mas não é tudo preto e branco. Há cinzento, que também é uma cor, como diz a T. E não é que este iogurte em particular esteja estragado, ou fora do prazo. Só que agora não me apetece, enjoei do sabor. Está amargo. Enquanto andavas por aí a ser feliz, eu desemerdei-me (com os meus muitos amigos, sim) e descobri outras coisas no frigorífico. E agora, não é no mural do facebook que me conquistas. Estiveste mais perto com cerveja de tequila. Não somos "incondicional", isso nem a vida. E como eu já deixei de brincar ao faz-de-conta, agora ou é a sério ou não é (de todo, coisa nenhuma). É como diz a outra: give it to me right, or don't give it to me at all.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

sem meias.

A Ritinha sabe que eu, às vezes, tenho insónias. As cabras não tiram férias, atacam quando lhes dá na ideia. É uma coisa muito aleatória. Entenderam, as cabras, que hoje era um bom dia (boa noite, leia-se) para incomodar. Os lençóis enrolavam-se nas pernas, a cabeça não aterrava na almofada, eu sei lá, estava toda do avesso. Danei-me! Vesti umas calças e enfiei uma camisola. Calcei as sapatilhas mais rotas que tenho e fui para a rua. Por engano, na mala que agarrei estavam os cadernos de socio-economia. Mas insónias não são compatíveis com estudo, nunca foram. Desci até à praça, para um café qualquer. Educadamente, fui expulsa de um que fechou à meia-noite e de outro que fechou à uma. Merda de horários têm estes cafés, depois refilam que é da crise. Enfim, desci a avenida, fugi dos bares e discotecas. Voltei a subir, encontrei um sitiozinho perfeito (que só fecha às 4h!). Pedi um (outro) café - se não as podes vencer junta-te a elas, não é? Sentei-me e fiquei especada a ver a Katy Perry na televisão. Que péssimo gosto musical tem este "flavours-bar-lounge". Nisto, a funcionária com cara de Escola Básica trouxe-me o café, acordei da hipnose. E, olha, depois fiquei a pensar no quanto queria escrever-te coisas bonitas e arrebatadoras. Na tua prenda de aniversário (atrasada como o caraças!) que encomendei hoje. No teu dom sobrenatural para comentar espetáculos de sábado à noite e detectar personagens dos filmes. Fiquei a pensar, mas foi sem querer. A minha cabeça tem uma tendência muito estranha de procurar o teu ombro, mesmo quando não estás aqui ao lado. E agora, porque não estás, caio em cima das folhas que não usei do caderno de (fingir que) estudo. Mas trocava o meu dentinho que está a nascer por ter aqui esse teu ombro. Por ti, e só por ti, dormia sem meias.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

bom feeling

Não é assim uma alegria murcha. É uma animação gigante, ridícula, pessoal e intransmissível. Sou eu a chegar a casa a cantar (leia-se: gritar) o "Sol da Caparica" e a fazer a parte da bateria na tampa do contador da energia. Espetar dois xutos e pontapés na porta e entrar no quarto num solo irreprimível de air guitar. Uma sensação de missão cumprida - mesmo que muito aldrabada. É um alívio do caraças ter os trabalhos entregues, os exames feitos. E nem me vou chatear se não for uma das 9 positivas a socio-economia dos media! Estou tão no topo que nem os rebeldes da Líbia me metem medo. Não tenho motivo, mas estou a adorar o momento. É como se tivesse comido uma caixa daqueles cogumelos malucos! E, olha lá, hoje não nem contigo estou triste. Anda, vai ser feliz! Pronto, beijinhos às primas!

terça-feira, 21 de junho de 2011

nao consigo estudar.

O exame e daqui a uma hora - e o teclado desdes computadores manhosos da faculdade nao permite acentos! Cheguei aqui cedo, para imprimir umas papeladas que tenho (tinha) de ler para o exame. As atordoadas que "trabalham" na reprografia nao tem o computador a funcionar, e ainda ralharam porque nos (os estudantes em geral) nunca lemos os avisos ... neste caso, um miseravel papelinho rasgado, pendurado numa corda, que diz "Nao da para imprimir". Fui ao auditorio do 6º piso, e o funcioario pançudo diz-me que as impressoes ficam a 5 centimos por pagina, e ainda tinha de ir ao 4º comprar as senhas. Nunca! Desisti, fui para o bar discutir os pressupostos de uma entrevista com os Pedros. Agora regressei ao auditorio, so porque tem computadores. A ideia era vir ler o material que esta na pen - e que nao vou imprimir, tendo em conta o preço exorbitante de cada paginazinha! Mas, olhem, isto ha-de ser o que Deus quiser. Ainda li umas linhas, na diagonal, mas fiquei aborrecida demais. E ridiculo, mas faltam 62 minutos para o exame que me vai valer a nota de uma cadeira e so consigo concentrar-me na ida ao cafe, depois das 16h. E ridiculo. Bem, vou ver se estudo. Sem garantias. Porque chegou o verao - uma das muitas desculpas para nao ler o apoio bibliografico da cadeira de radio II.

P.s. esta um tipo meio indiano a jogar farmeville dois computadores a minha frente.

domingo, 19 de junho de 2011

otros planes para tí.

"Decía John Lennon que la vida es lo que te va sucediendo mientras te empeñas en hacer otros planes y tenía razón. Planeas tu matrimonio, la casa donde vivirás, el colegio al que irán tus hijos, planeas hasta el color que tendrá el puto sofá... pero los planes son solo un dibujo en una servilleta de papel y por mucho que te empeñes, al final, tus planes le importan una mierda al resto del mundo. Y puedes ponerle cabeza, corazón o un taco de servilletas emborronadas con sueños, que la vida, tiene otros planes para tí..."

Los Hombres de Paco, temporada 7, último episódio

quinta-feira, 16 de junho de 2011

eclipse

Lembro-me de quando era criança, lembro-me do primeiro eclipse. Estava na Figueira da Foz, em casa da minha avó, com a minha irmã. A avó Albertina equipou-nos com aqueles óculos especiais que ofereciam nas farmácias. Nunca percebi, mas tínhamos de os usar. Sei que estava ansiosa para ver o que acontecia à lua, sem querer saber dos óculos. Subimos depois as escadas do prédio até à janela mais larga do piso de cima. Por alturas, cabíamos todas. Foi rápido, nada de especial. Desconfio que não achei piada nenhuma àquilo. O interesse era mesmo espreitar por baixo dos óculos, mas ninguém me deixou.
Agora, com 19 anos, perco eclipses. O primeiro do ano, e eu a passear nos Arcos, na rua do Jardim Botânico, à procura, sem óculos e sem ver a lua. Desisti. Vai à merda, eclipse. Um fenómeno lunar também não pode ser assim tão importante - acho que até era, enfim. Tinha um plano e correu mal, porra. E já não há mais eclipses. Ups.




sábado, 28 de maio de 2011

voltei à Banda.

Aquilo continua a mesma comédia. E podia exemplificar com qualquer naipe, mas apetece-me começar pelos trombones. O mais 'antigo' continua a precisar de estudar a lição número 1 do solfejo, o outro está constantemente sob o efeito de substâncias menos lícitas e modificadoras do raciocínio. Isto num só naipe. Nos vizinhos do lado, temos o colega B. e a sua insaciável necessidade de expressão. Não há uma rapsódia popular em que não me chegue a voz melodiosa do dito rapaz. E eu estou quase na outra ponta da formatura, na sala de ensaios. Ao lado, as tubas e o contra-maestro que rege a 3 as músicas da tourada (que, fica registado, são a 4!). Perto de mim, os saxofones. E se, há algum tempo atrás (antes de eu ter feito a pausa de um ano a serviços e ensaios) nada havia a apontar, eis que agora começamos a descobrir-lhes alguns podres. E, se não podemos apontar o dedo à pré-escola de garotos que foram chutados da Escola de Música para a Filarmónica, podemos certamente fazê-lo aos da minha geração. E, não querendo descer o nível (na esperança de que o B. o faça no seu comentário) não me pronuncio mais acerca deste assunto. E desenganem-se ao pensar que não tenho a decência de detectar as falhas dentro do meu próprio naipe! A nossa chefe, por obrigações da vida das pessoas crescidas, não está presente há um ano. E eu, vice-chefe, fui quase promovida para um lugar cobiçadíssimo. E vejo, lá do alto do meu poleiro, bracinhos que se esforçam por me gamar os papéis de primeira Flauta. Mas, ide com o caraças, há que comer muito cerelac antes de cá chegar! Também eu toquei, com todo o orgulho e cagança, os papéis rasonhos de oboé, de terceira e de segunda flauta! E, imaginem lá, ainda bem! Mal seria da ambição para ficar com os solos antes de saber ler uma partitura - e fazer a borrada que a outra fez no concerto de Natal, nunca me irei esquecer! E sim, há alturas em que queria ser dos clarinetes. Raramente têm crises, lá consomem as suas substâncias e conseguem tocar tudo direito. Fantástico, não é? Substancialmente melhor, a nossa percussão. Os dois palermas lá continuam, mas isso será sempre uma causa perdida. Felizmente, conseguimos perder uma aspirante a percussionista (e seus botins envernizados) e ganhar um puto com algum sentido de ritmo. Há esperança!
E assim continuamos, todas as sextas-feiras a partir das 21:30h. Agora a ensaiar as (feíssimas) músicas para as procissões e arruadas das festinhas de Verão. Piscando o olho, no final do ensaio e num grupo seleccionado, aos nossos anos dourados - quando tocávamos o Fantasma da Ópera, os Piratas das Caraíbas e a Alda. Para estes também há esperança. Só não há músicos!

P.s. Aparentemente, continuamos a ser "patrocinados" pelo tio Jacob de Haan, ou o maestro comprou as partituras todas num pacote promocional.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

porque o mundo é um momento.

momento 1

É noite de Serenata. O jantar de curso, o primeiro que esta (minha) comissão organiza, foi bom. O Braga ganhou e vai à final contra o Porto. As minhas afilhadas ficam lindas de Capa e Batina - e as afilhadas das outras também não ficam mal. Cantamos os hinos do curso, os hinos de tudo e mais alguma coisa. E bebemos, bebemos, bebemos. Chegada a hora, vamos para a Sé Velha. Ou tentamos, porque já todas as ruas são pequenas para tantos estudantes e turistas. Ficamos na lateral, sem vista para as guitarras. O som não é mau, ainda se ouvem alguns acordes. Nos primeiros, traçamos Capas. Com palavras e muitas lágrimas deixam de ser caloiras. Acabou! Depois do terceiro tema deitamo-nos no chão. A L. adormece, com a cabeça encostada ao meu joelho. A R. continua acordada e, baixinho, vamos falando nem sei de quê. Com o céu em cima, reparei que não havia estrelas - estava tudo preto. E disse: "R., hoje não há estrelas". Ela responde-me, no mesmo tom melancólico e nostálgico de quem esta na Serenata: "Pois não". E faz aquela pausa que só ela sabe fazer, apenas para acrescentar (com a mesma suavidade), que as "putas do caralho, fugiram."

momento 2

É noite de Queima, não sei qual. Ainda não fui ao recinto, mas prometi que ia depois deste jantar. Na varanda de casa da M. reconheço outra varanda. Ligo à S. e vejo-lhe o vulto, a passear junto à janela da sala. Estão ali, eu também devia estar. E afinal estamos perto, estamos juntas por telemóvel. Depois descubro que tu não estás em Coimbra, faço birra. Fico amuada e sem jeito. E queria falar, queria perceber. Mas foi muita vodka, e não conseguia fazer nada disso. Nem tu querias, valha a verdade. Fiquei mal disposta com aquilo tudo, até com as bifanas. Não sei o que me deu, agarrei-me ao lava-louças e a T. agarrou-me o cabelo. Não foi bonito, mas tive a decência de lavar a cara e sair, já com as chaves de casa na mão. Ía a passar o Botânico quando a R. me ligou, e eu sem saber onde estava. Deixei cair as chaves, foi um tormento. Depois liguei de volta. "Olha, ganhámos a Eurovisão?". E não, porque era só a semi-final e nem daí passámos. Fiquei inconformada, eram dois desaires numa noite. Quando cheguei a casa o pijama fugiu-me e a cama abanava como uma rede. Mas dormi bem, acordei feliz e aproveitei uma das melhores ressacas de sempre.

momento 3

É um dia qualquer, sei lá. Decidi baldar-me a tudo por uma tarde, fazer greve e ir passear. Escolhi as galerias do Santa Clara, porque tem boa música e um sumo de laranja natural muito delicioso. Apanhei o 6 no sentido contrário, como de costume, e fui dar a volta toda pelos HUC antes de passar a ponte e sair na paragem perto do Portugal dos Pequenitos. Levei a mala castanha, quase rota, cheia de revistas e livros e jornais. Entrei como quem conhece a casa e escolhi o melhor sofá, na esplanada coberta. Se o rapaz que andava a servir às mesas soubesse ler caras (como aquele homem da série das mentiras) escusava de me ter perguntado o que queria e, depois, se queria com gelo. Fiquei lá umas horas, li a revista de uma ponta à outra e corri algumas notícias do i. Depois pensei em como é que me ia desemerdar sem ti. E, olha porra, não será difícil. Voltas quando quiseres, a T. garantiu-me que sim.

momento 4

O dia da razão. T., alegra-te: tinhas razão. E eu tive de admitir, por mais voltas interiores que isso me provoque! Mas, felizmente, tinhas razão. Com duas ou três mensagens carinhosas (amorosas, arrisco dizer) voltámos ao "normal". O que ainda não é bom, não me satisfaz. Sabes, devo ter aquele desejo de requinte que só um Ambrósio qualificado pode saciar. Mas estamos no bom caminho, o que é muito favorável - sabendo das semanas em que o meu telemóvel não tocou, por ti, uma única vez. E agora, anda, corre atrás de mim. Faz-me falta aquela caneca de cevada instantânea (que, continuo a afirmar, fazes melhor que ninguém), na varanda da cozinha. Se isto fosse o Facebook punha um gosto. E tu, outro. Mas ainda não é para já, não mereces uma cantiga de amor à moda antiga.

momento 5

Ontem caiu-me um dente. E nem foi bem 'cair', porque o arranquei. Mas a culpa foi dele, porque não parava de sangrar. Felizmente, ainda era daqueles que mudam até aos 10 anos - os dentinhos de leite, que a fada depois leva. Que extraordinário a minha dentição ser ainda tão infantil, mas creio que eliminei o último resquício de adolescência. Agora tenho um gigantesco buraco, o que acaba por não ser melhor - logo aqui tão à frente, que se vê tão bem em qualquer sorriso.
Hoje fui para o café, matar saudades da happy hour e do jogo dos patos. Falhei só uma ou duas vezes, por desconcentração e nada mais. O mesmo não se aplica às restantes, verdadeiros nível 0 nestes jogos de quem-falha-bebe. Com um andar mais ligeiro, fomos jantar. Depois de quase meia-hora às voltas com a lista acabei por escolher uma espécie de pizza, só que enrolada e com as coisas todas lá no meio. Modernices, diria a minha avó. A sangria escorreu como água do rio, ligeira como o nosso andar. E acabou a festa, que amanhã ainda é dia de trabalho, de madrugar. Na rua que sobe até ao Botânico, reparei nos teus olhos. Pelo reflexo no espelho, um plano fechado só de ti. Eu, muito encantada, desconfio que quase não falei nesses 5 minutos de contemplação. Ninguém deu por nada, prometo-juro. Mas eu vi. Brilham, e não é com photoshop.

sábado, 14 de maio de 2011

ela voltou!

Tenho andado inquietada, com vontade de vir aqui escrever. E não me tem faltado assunto, entre chatices e jantares! Fui adiando, não sei bem porquê. Até que decidi que não passava de hoje, tinha de ser. E, já nem sei onde, descobri que a Rosinha tem um novíssimo trabalho discográfico! Caraças! E eu que vinha pr'aqui com merdas, com neuras! Abençoada Rosinha, isto sim é coisa digna de se registar! O meu dia, que começou com um brutal madruganço, seguindo de crise de preguiça e filmes, para terminar a manhã a ler jornais no Cartola, deu uma grandessíssima volta! Rosinha, muito obrigada!



Rosinha prepara já a temporada de Verão, numa capa (e contra-capa) que transborda água e minhocas, mas onde há ainda espaço para a sua cana-de-pesca, lancheira, acordeão, dançarinas e os habituais óculos (que já há muito ofuscaram a mania do Pedro Abrunhosa).


Como está provado nos títulos das canções, Rosinha continua refinada na escolha dos assuntos e muito delicada na sua abordagem. Do que ouvi, destaco a enternecedora descrição da maneira como come camarões (que são sempre "grandões", como refere muita vez). Diz que "come tudo", até ficar satisfeita. E que a desculpem, porque ela é mesmo assim. Isto tudo na faixa 6. Não indiferente à crise, faz questão de alertar o seu conjugue do interminável rol de indivíduos que abusam da conta da mãe dele. E claro, a senhora é que paga a despesa no final do mês - apenas porque tem a conta aberta, nalguma mercearia, suponho. Saving the best for last (ela fez o contrário, porque é a faixa número 1), eis o single! E aqui fica dissolvido o mistério acerca das minhocas da capa! Este disco tem como tema base a pesca, actividade de fim-de-semana na qual a artista participa - porque o menino não é capaz de colocar a minhoca no anzol, embora seja muito bom na cana, e estou a citar. E, como também já é costume, o single já é promovido com um finíssimo videoclip! Muito teatral, gravado nos jardins ao lado do CCB e no bonito passeio do ao lado do rio - onde, então, se pesca. Olhem, recomendo imenso muito! Fica o link.
E afinal, que caraças, andava eu tão entediada com assuntos sem importância! Como disse o Fadista: "neste Mundo afinal / vendo bem nada vale mais / que uma cantiga". E é verdade. Ide ouvir Rosinha, não há neura que resista!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

não sei falar disso.

Pensei que fosse óbvio. Julgava que meio-mundo já tinha percebido, mas os sinais enganam. Interpretar é uma treta, ter de ler cada palavra mil vezes para tentar perceber se afinal queres ou não. É um quebra-cabeças diário, constante. Mas amuei, como as crianças, e não quero brincar mais. Não quero conversas dúbias, olhares trocados nem a treta do umbigo. Não, que o tapete foge. Quero beijinhos de boa noite, de bom dia e de boa tarde. Tudo aquilo a que tenho direito. Mas quero que saibas que quero mais, que os quero a sério. Que se lixem os telemóveis e o facebook.
Habituei-me a que digas que não, por brincadeira. Não me magoa quando o fazes, nem se o fizeres agora. Prometo, juro, que é tão simples como das outras vezes. Não vai haver cenas de joelho no chão, dedicatórias em cartolina (como as que havia nos portões da Secundária). Isso custa muito, mata. E, afinal, nem é assim tão complicado falar disto - até um baralho de cartas do chinês consegue! Então, fica escrito: gosto de ti. Não digo a outra palavra porque soa mal. Como ela diz, a protagonista do meu filme preferido, "se calhar é por ser em português. Quando se sente é bonito, mas quando se diz parece ridículo. Percebes?"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

em abril.

Não gosto que neste dia a Sic passe filmes da princesa e que a tvi passe documentários (também da princesa). Não gosto que, indirectamente, se dê mais importância a um par de noivos que a um dia nacional. Revela ignorância, não pode estar certo. Das poucas coisas interessantes que tem a nossa história, há uma revolução. Fizemos uma revolução e hoje ninguém se lembra dela. Porque o país está na crise, e na troika, e o no FMI e porque o Mário Soares tem cara de bolacha - diz a minha avó. E porque arregaçar as mangas, 'erguer a voz e cantar', é um calvário que Deus nos livre. Mas, porque sempre me foi difícil perder amigos, não tenho vontade de virar costas ( e ontem tanto se falou que no Luxemburgo dão subsídios aos filhos e aos pais, aquilo é um luxo). Então cá estamos, à espera de mais uma edição do programa das criancinhas a cantar, à espera da novela da noite com edição especial, à espera dos santos populares e dos meses quentes de férias. Porque este mês nem nisso é bom, ou está calor ou está de chuva. E hoje, afinal, que dia é?



Na canção que eu hoje trago
Direi tudo o que eu quiser
No passado deixo um cravo
Planto outra flor qualquer.

(...)

Lutei
Com que armas não sei
Mesmo na desgraça
Ergui a cabeça
E lutei.

Senti
A força da raça
Dum povo que passa
Depois de ser escravo
A ser rei.

Na canção que eu hoje vivo
Cabe tudo o que eu disser
A palavra amante e amigo
A fúria de viver.

- José Carlos Ary dos Santos, Mulher Presente

sábado, 23 de abril de 2011

casa.

Por causa das férias, tenho estado em casa. Em casa-mesmo, o Refustedo é só abrigo para estudante. Aqui, na vila, os dias ou estão cheios de coisas para fazer, ou as tardes arrastam-se por séculos até à hora de jantar. Posso andar o dia inteiro com meias rotas e calças velhas, aquilo a que alguém muito sábio um dia chamou "roupa de andar por casa".
Mas aqui não há autocarros dos SMUT que me levem a passear à baixa, não há o café da praça onde se possa estar a tarde toda sem comentários das velhas. Não se pode beber finos e comer tremoços, isso seria o fim. O mais radical é dizer, cá em casa, que vou tomar café com gente de confiança e que volto cedo. E nunca passo das 2h. Só que aqui há pássaros logo de manhã. São o meu despertador. E a persiana não fecha bem, ainda não foi arranjada, desde o verão. Portanto acordo as 10h, com sol na quarto e com pássaros a fazer os seus barulhos. E é muito bonito, muito poético, mas é de manhã. Depois acordo e não há nem Faculdade, nem gabinete, nem esplanada, nem a banca dos jornais do Senhor Pavão. Começa o tédio a atacar. Mesmo a tempo, porque hoje a noite já há café, na rebeldia até às 2h. E amanhã já há Páscoa e coisas doces. E depois, há Coimbra.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Senhora Dona Fruta

Está um calor de morte em Coimbra. Nas ruas, nas esplanadas, em minha casa e na casa dos outros. As janelas abertas não resolvem, porque não há vento - e quando há, é quente. Logo pela manhã já uma camisa parece excesso de roupa. Mas, mesmo com este clima, não se pode ficar em casa. Eu, muito corajosa, lá saí. Quando estava de regresso, e passando pelo Largo de Santa Ana, resolvi vir por outra rua - porque tinha mais sombra. Mais meia dúzia de passos e, à minha direita, uma frutaria com ar de frescura. Entrei, só para conhecer o espaço, e dou de caras com uma senhora alta, forte, de sorriso rasgado, a perguntar-me se podia ajudar, "filha". Disfarcei e apontei para os abrunhos, são 3 por favor. Enquanto, muito solícita e despachada, foi buscar um saquinho de plástico, eu aproveitei para contemplar a fatiota: trazia umas socas cor-de-laranja garrido, sem meias; um vestidinho branco, pelo joelho; e, a cereja no topo do bolo, um avental com botões, gola revirada e manga pelo cotovelo, tudo com frutas desenhadas. Mas com cores, bonitas, com um aspecto muito festeiro e animado. Ainda eu não tinha tido tempo para chegar aos brincos, já ela tinha arrumado os abrunhos no saco e voltava para mim com perguntas. "Oh linda, atão e não bai mai' nada?". E mostrava maçãs daqui e ananáses inteiros noutra cesta. Depois levou-me aos morangos, deu-me um para provar que eram doces. "E são nancionais! Qu'a gente agora temos de comer o qu'é nosse". Então eu, porque os morangos eram 'nancionais', pedi-lhe uns 10. Deu-me 12, por causa das contas.Também fiz contas, não fazia ideia das moedas que tinha na carteira - só entrei para ver e já tinha dois sacos de fruta. Rematei por ali as compras, mas não consegui segurar-me quando vi caixas de cerejas no balcão. Ao meu olhar guloso, a Dona Fruta (é o melhor nome que lhe consigo arranjar) respondeu-me que já não tem. Que ainda houve, por alturas do Natal. Vieram numa remessa da Argentina, eram boas. Agora só volta a haver na época delas, lá para Junho. Mas o melhor é que eu vá passando, que sempre há qualquer coisa nova. E fez a conta. Tinha unhas cor-de-rosa choque, já com o verniz a cair, e carregava nos botões da máquina sem olhar. Continuou a explicar que às vezes tem assim negócios com a Argentina, porque eles têm lá coisas boas e há sempre quem lhas consiga trazer frescas. Que é como a fruta tem de ser, fresca. Despachou-me com 3€ e qualquer coisa e o típico 'volte sempre'. Ainda veio comigo à porta, muito airosa nas suas socas, gritar-me do meio da rua "BOM APETITE, FILHA!". E eu, sem manias de fineza, vim a roer abrunhos até casa.

terça-feira, 5 de abril de 2011

cerebrum

A Tatiana embirra constantemente com o meu problema de dicção. É verdade, às vezes, quando estou muito animada, muito descontraída ou muito nervosa, troco letras nas palavras e enrolo a língua a falar. Fica um som meio engraçado, ridículo. E ela faz sempre o reparo: "esse teu problema!". Mas, pior que este há outro, fora da minha idade. Tenho fraca memória, esqueço-me das coisas. É aleatório, olvido com a mesma naturalidade o que comi ontem ao jantar, o que tenho para fazer amanhã ou uma ninharia qualquer que alguém me pediu para lembrar. Tenho a agenda sempre na mala e não é raro ter notas escritas na mão. Mas, mesmo assim, às vezes esqueço-me. É fácil.
Hoje esqueci-me do assunto durante 10 horas. É um feito, quase meio dia. Tenho confirmação de mensagem enviada antes das 12h e não foi senão agora que pensei: não respondeu. E depois pensei: merda, não respondeu. Até que o disse, não está aqui ninguém que me oiça, posso proferir as maiores barbaridades em sossego. Mas o que há de bom nesta fraca memória de que padeço é que, juro, vou involuntariamente esquecer-me disto! Até dos palavrões. E, outra maravilha da nossa cabeça: mesmo que sonhe durante a noite, amanhã não vou saber.

terça-feira, 29 de março de 2011

não sejas púdica.

A tua historiazinha já correu o país. Desconfio até que o Correio da Manhã escreveu qualquer coisa sobre isso, mas na altura ninguém reparou, tal foi o escândalo que montaste quando o assunto se começou a espalhar - tu, constrangidíssima, ías corrigindo as versões que circulavam, acrescentando pormenores e risinhos. Desses teus risos estúpidos, de mostrar a garganta ao médico. Mesmo assim, tu tentas, com teatro e muita base, manter uma pose de senhora. E ficas pior. A esse teu arzinho rasco já estou habituada, ignoro. Mais ainda quando te vejo no engate, com aquelas frases baratas que saem nos chocolates, misturadas com coisas porcas do American Pie. E essa tua arte, que dizes ser reconhecida no estrangeiro (de tão corrida que és), só a vi funcionar com duas canecas de cerveja e uma outra pessoa igualmente desesperada. Foi um fogo que se pegou. E eu, na minha inocência de estar sempre no sítio certo à hora exacta, fui dar contigo (e com a outra) numa confusão de saias curtas e meias de lycra mal puxadas. Um espectáculo potencialmente agradável à vista, não fosse a banalidade da produção. Ficaste famosa quando o assunto, logo no rescaldo daquela bebedeira, se espalhou. Muito contente andavas tu nos teus 5 minutos de fama.
Por isso é que não faz sentido a tua nova conversa - que andas irritada com a alcunha. E, em mais uma das tuas míseras explicações, dizes que nós podemos usar (reconheces os autores, valha-nos isso), só não admites aos outros, porque não sabem. Mas, juro, eles sabem - toda a gente sabe. Então, não sejas ridícula. Quando eras porca-assumida tinhas mais sucesso. E eu até te achava piada - eras o conhecido caso de uma noite mal passada. Imagino que esta nova personagem te dê imenso trabalho: não consigo contar as horas que passas em casa, a desfilar de casaco pendurado nos ombros, as combinações de cores que fazes antes de sair à rua e muito menos o sacrifício de levar a mão à boca para disfarçar os risinhos. Eu, que nunca gostei de ti regularmente, tenho vindo a permitir o crescimento da tendência para não-gostar (mesmo). Mas o que ainda tem mais piada é que, quando leres isto, não vais perceber que é para ti, porque és uma Senhora. E hás-de ser, até uma noite em que alguém precise de ti.

terça-feira, 15 de março de 2011

quem faz um filho.

Na tarde de sábado, entrei as 14h para atender um pai que queria inscrever o filho. Foi só tratar dos papéis e marcar horário - o meu último furo livre, eis o fim dos meus minutos para café, depois do almoço. Depois disso os alunos vieram todos, até às 19:30h. O dia tinha começado cedo, com uma deslocação até ao Tojeiro, para apoiar com guitarra o semi-oficial Grupo de Jovens de lá. Em casa só agradeci à minha mãe o almoço e foi uma corrida para chegar a horas. Com isto, no suposto primeiro dia de descanso, chegaram as 17h (e a última aula de flauta) e eu já sem cabeça para as notas trocadas e o som irritante de quem está a aprender. Para aprimorar o dia, na última aula de iniciação musical, o senhor (que já tem 50 e muitos anos e mãos de pedreiro) apareceu, como se esperava, bêbedo. E a missão que, num comum sábado, é impossível (porque com aquela vida não há cabeça que decore as posições das notas) foi muito para além disso. Com esforço, aguentei a primeira meia-hora. Mas como não me pagam assim tanto, acabei a aula por ali, e que se lixe. Já estava a olhar para o relógio, na ânsia de não perder a abertura dos telejornais. A manifestação havia de ter sido uma coisa digna, em grande e em bom. Entrei casa-adentro, lancei os dossiers para a mesa e eu própria para o sofá. Já não apanhei a abertura, mas felizmente fizeram um 'especial-informação' que durou mais de dez minutos, com entrevistas às velhotas que tinham ido reclamar um futuro para as netas - até me apeteceu ligar à Maria Albertina a saber onde andaria! As reportagens correram o país todo, e eu sem acreditar que eles não tinham ido. Lá estavam os Homens da Luta, numa carrinha com colunas muito mal atadas. A guitarra do Falâncio foi de mão em mão, por Rui Veloso, Fernando Tordo e Vitorino. E eu a bater palmas no sofá - e a minha mãe, enquanto aquecia a sopa, a dizer que eu sou 'doidinha'. Vi o telejornal até ao fim e ainda fui aos canais 24h. Corri a internet e a rádio. E era verdade: os Deolinda não foram. Em comunicado, informaram que não estariam presentes, e foi isso.
Portanto, não digam que eu sou da "Geração Deolinda". Isso seria tão mau como o ditado "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço". Porque fazer músicas é como fazer filhos: com gosto e com responsabilidade. Até há maneiras simples de emendar tudo no dia a seguir, mas não funciona com as cantigas. E se é para 'ser de alguém', como no futebol, prefiro ser dos "da Luta". Chamem-lhes 'doidinhos', irresponsáveis ou inconsequentes. Estiveram lá, e isso tem de contar. E vão à esquadra, e podem até não ir à Eurovisão - mas que importa, se eles já disseram que, mesmo desclassificados, apanham o avião e vão cantar nem que seja à porta? É que, por estes dias, confesso que é um alívio poder acreditar no que se diz, na confiança de que vai ser feito. E eu, quando disse que não fazia exame naquelas condições, não fiz. E saí do auditório. E já mandei cartas ao Director da Faculdade e ao Conselho Pedagógico - e continuo sem o exame feito, com a nota pendurada. E isso até me incomoda, porque sei que a minha mãe me chamou 'doidinha' - mas também vi que ficou contente porque, e como diz a minha avó, "meu dito, meu feito".

quarta-feira, 2 de março de 2011

dois amores.

Quando cheguei vinha triste com o país. Com ideias de emigração, para um cantinho onde não se falasse da crise e do FMI. Para cúmulo, o iPod achou-se no direito de me bombardear com sambas e ritmos sincopados. Ia embalada naquilo, fiz por não ouvir a Gina e a Lena a discutir cremes para as rugas do pescoço. Com a música, olhava pela janela e parecia tudo feio. O shopping gigantesco, visto da ponte, era como um monte de caixas de transporte de bichos. Era tudo feio. E eu queria mudar de país, porque este era feio, já disse, triste e sem graça. Mas com a mesma facilidade dos sambas, o sacana do iPod seguiu para um fado. Quase uma marcha, Raquel Tavares - Lisboa garrida. E eu, naquela passagem de pandeiros a guitarra portuguesa mandei a mão ao peito e, Deus me perdoe, benzi-me com a esquerda. Arrependi-me até à espinha do outro sentimento anti-pátrica e num 'ai' voltei a amar a casa. A mesma janela da carrinha mostrou os mesmos prédios feios, empoeirados em cinzento - e eu já via quatro paredes caiadas e cores, muitas cores, todas as do catálogo da Robbialac. Os meus olhos, doidos, procuraram o Tejo. Esquerda, direita, olhava e torcia-me no espaço do meu banco, no canto. Espreitei atrás dos centros comerciais, dos prédios e dos barracos das associações culturais e recreativas. Nada de Tejo. Passaram-se os 3 minutos e 5', mudou o fado para uma música de ir à praia (que eu até gosto, tem dias). Irritada com o Tejo, e com a música, programei o aparelho: agora só dás fado. Depois apareceu o rio, onde eu o deixei em Agosto. Igualzinho. A carrinha fugiu dele, direcção Loures. Desculpa, hoje não vim para te ver. Fecharam-me todo o dia na escola da polícia, no congresso. E eu queria a tarde, o fim do dia, ir à fadistagem. Fugir e correr Alfama. Levaram-me ao Vasco da Gama e de volta a casa, para comer e dormir. Havia copos de vinho tinto na mesa, mas a renda da toalha não me deixava sair do sítio - nem em sonhos. Ainda era cedo, muito cedo, quando me prepararam a cama - que, de dia, é sofá. Embrulhei-me nas mantas e mandei as boas noites. Depois Coimbra mandou-me um beijo e, antes de adormecer, o iPod lembrou-me que não me dou longe de ti - já diz o Zambujo. É venerar Lisboa e amar Coimbra. Longe de mim ter dois amores - isso seria muito pimba.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

por encomenda.

O homem não tem aspecto nenhum. É magro 'como as estacas do feijão' (diria a minha avó) e tem um péssimo guarda-roupa. Vai variando as suas peças de alta costura entre a camisa de flanela grossa em xadrez (conjugada com um pólo cheio de borbotos e cor do antigamente) e outra camisa também feia e também ao xadrez (e, surpresa, o pólo não muda!). Os sapatos são achatados e largos, como os dos astronautas, sempre no mesmo tom de castanho, com atacadores. As expressões faciais são entre o 'homem-deprimido-que-vai-saltar-da-ponte' e o 'homem-deprimido-que-vai-matar-alguém'. Fica sempre discreto, num sítio onde possa ver o movimento, as pessoas - quer seja no shopping ou no café. É aborrecido olhar para ele. Aposto que passa as meias a ferro, lê livros de auto-ajuda e considera a máquina do café a melhor invenção de sempre. É verdade, este senhor é uma grande treta. E, até hoje, não tinha categoria para aparecer neste blog. Só que ela fez-me um pedido, e não posso negar nada a quem me deu uma caixa de 6 Red Bull, naquela noite na Praia da Tocha. A partir deste dia, aceitam-se encomendas, recebo Red Bull (ou sapatilhas novas) em troca.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

amor é.

Adoro os programas especiais da Sic - é a premissa deste texto. Adoro estes dias em que a 'Companhia da Tarde' passa a ser a 'Companhia do Amor' ou a 'Companhia da Mãe' ou a 'Companhia do Piriquito' (ou da Piriquita). Gosto particularmente das tardes em que sorteiam um belíssimo automóvel, e a mula da apresentadora repete trezentas vezes que o dito veículo tem jantes de liga leve e assentos em pele. A cereja no topo do bolo é juntarem a Merche Romero e o Careca durante toda a emissão e, quando uma pessoa julga que já não pode ser surpreendida, ainda trazem o namorado dela, numa lindíssima declaração de amor, atenuada com um ramo de flores foleiras (e de aspecto barato). Quando a programação que temos é esta, há que esperar por toda uma panóplia de artistas do 'muito-mau' ao 'fraquinho' - e, lá está, aparece sempre a Ruth Marlene. Aqui e ali, aparece no ecrã um casalinho de idade avançada a explicar o que é o amor - numa entrevista muito mal preparada. Nisto, respondendo à pergunta do senhor entrevistador e mostrando o que nenhum dos casalinhos teve ousadia para dizer, eu entendo que o amor deve ser divulgado - se possível, em cartolina ou lençol branco. Sem vergonhas, e de uma maneira sentida, assim como esta:


domingo, 6 de fevereiro de 2011

vou meter no facebook

Rendi-me àquela brincadeira do Millionaire City, no facebook, depois de ter visto a Tatiana a recolher milhões nos seus bungalows de luxo. Agora tornei-me, também, empresária (e viciadinha naquela treta). Estou a ter grande sucesso e até já tenho um restaurante de sushi, lá na city. Blogger, gosto muito de ti, mas começo a ficar mais fã do facebook!

E ADORO ESTA MÚSICA !

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

a luta continua.

Correio da Manhã, página 22: 50 alunos impedidos de fazer exame

Porque quando um caso chega ao Correio da Manhã é porque a bronca não foi pequena. E o meu exame de União Europeia (e não de 'Estudos Europeus', como escreveu a senhora jornalista) lá ficou por melhorar. Nós, os manifestantes revolucionários que recusaram fazer um exame (que poderia nem ser validado) sem direito ao tempo regulamentado, ficamos com a cadeira pendurada. Se o caso tivesse chegado à TVI, por esta altura já estávamos todos com 18 - ou, pelo menos, com o nome nas pautas da secretaria. No meio da luta, não consigo esquecer o Pedro, muito irritado, quase a berrar: "se isto fosse o Superior de antigamente ninguém tinha ficado naquele auditório". Essas questões temporais não me afectam, porque saí, mesmo em prejuízo (quase certo!) da minha nota. Como sempre ouvi dizer: há que ter tomates.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

o selo. mas qual selo? o selo.

como é natural, tenho de responder às perguntas.

1. Quem ofereceu o selo - veio daqui.

2. Qual é o teu chá preferido? Gosto de pêssego e manga, frutos vermelhos, camomila e chá preto. Odeio o de menta, sabe-me sempre a couve.

3. Quantas colheres de açúcar? Um pacotinho daqueles dos cafés ou então vai a olho, e vou provando.

4. Passar o selo. Isto vai funcionar como a histórias das pombinhas da Cat'rina - é de quem o apanhar.

P.s. normalmente bebo o cházinho ao fim da tarde (mas já depois da 5h) e fico com sono.

domingo, 23 de janeiro de 2011

MFAlegre

Não tenho espaço para lamentar que o Alegre não tenha chegado nem aos 20%. O que mais custa a engolir nesta tragédia de eleições é que a senhora Simone de Oliveira seja apoiante do Cavaco Silva. Ainda podia tolerar que uma Eunice Muñoz simpatizasse com o Senhor Vassoura, mas, e peço desculpa, não consigo meter na cabeça que Simone de Oliveira (a mesma da história de fazer filhos por gosto) esteja na sede de campanha a celebrar a vitória. Pior! A declarar que a vitória do actual (e futuro, raios partam) Presidente da República lhe "dá uma certa tranquilidade". Marasmo, seria melhor palavra. São facas que me entram quando ela lhe pede que "tome conta de nós". Caraças, não quero nenhuma edição séc. XX do paizinho do Estado, no seu cadeirão de poder. Esse caiu. E tu, Simone, estiveste em todas as Galas do 25 de Abril, florida em cravos e letras do Ary dos Santos. Se o Ary te visse agora de braço dado com a comandita! Mas lá estavas tu, feliz e contente porque ganhou um economista honesto (com casas feitas sem licença e acções a valorizar como chuva), um Homem do sou país - que serviu uma guerra tranquila, num posto de turismo com a sua lady, porque a colónia era bonitinha. Senhor do seu povo, com o nome nos cadernos da PIDE - do lado errado da PIDE, o mais confortável.
Ai Simone, que desgosto. Muda a letra da Desfolhada - os filhos não se fazem por gosto, é só para assegurar a espécie.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

frases que ficarão na história

um dia destes, naqueles momentos de sms-vai-sms-vem, estava eu cheia de fé em mim, escrevo isto:

"... Mas eu sou Mariana Pardal, a toda poderosa, detentora de vários cargos de importância e de uma inteligência superior. Portanto, estou em condições de lhe dizer para ir à merda."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

intenção de voto

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domingo, 9 de janeiro de 2011

as Janeiras e as outras coisas.

Sexta e sábado foram noites de Janeirar. Já não posso ouvir nem mais uma vez o Natal dos Simples, e nunca pensei acumular tanto ódio ao "nós vimos aqui todos, todos a cantar / vimos pedir as Janeiras, se no-las quiserem dar". Ainda assim, safei-me de tarde de sábado - que rendeu tanto como a noite! Por este andar, conseguimos ter as viagens pagas, juntar mais uns trocos para o órgão e ter um grupo de fãs oficiais. O pior é mesmo manter a calma entre as casas que (ainda) não foram visitadas - já me chegou o boato das senhoras que hoje se abespinharam porque fomos à não-sei-das-quantas e não batemos à porta dela! Não nos chegava a chuva, ainda temos de aturar trovoada!
Hoje o dia foi de (re)encontro com os amigos Convivas do 1139! Melhor que o almoço, soube a alegria partilhada nos momentos de concurso de mímica, ou outra qualquer palhaçada de ocasião. Um gostinho daqueles que anima o espírito, encontrar as pessoas que deixámos no Encerramento, as caras que estão na fotografia. E sentir viva a amizade que nasceu em três dias - porque hoje já é o 4º e continuamos de braço dado. Venha o 5º dia, venham mais (re)encontros! A saudade mata.
A cereja no topo do bolo veio depois, num pavilhão com mau aspecto. Académica, Académica, Académica - em versão basket, com a Joana em grande nível! Um jogo que eu não entendo e não consigo acompanhar, mas nunca me arrependo de ver.
E, tirando o assunto do contexto, a M. já tinha avisado que o dia era de surpresas - e o horóscopo disse que o clima (mesmo estando fresco) era favorável.

Se não pensar no exame de amanhã, isto hoje está a correr muito bem.