sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Baixa e Baixinha #1

Desci pela rua da Ilha e quase torci um pé na calçada. Continuei, vi um carro a raspar o muro lateral da Sé e arrepiei-me como se fosse meu. Cheguei às escadas e parei para, a pedido, fotografar um casal (alemão?), que estava bastante perdido mas a adorar o passeio. Desci pelo quebra-costas sem mais interrupções, mas não sem deixar de apreciar as meninas da casa de fado à coca de turistas. Já na curva antes do Arco, desviei-me, no limite, de um cão pequeno e despenteado que vinha em sentido contrário, a toda a velocidade. Depois vejo Capas e Batinas e, embora sem conseguir ainda ouvir, percebo que é uma tuna feminina. Cantavam o "à meia-noite ao luar" com uma doçura exagerada. Muito mansas, pensei. Deixei-lhes 1€ por respeito às Capas - agradeceram com um piscar de olho. Segui até ao Nicola e entrei para um café rápido ao balcão, ouvindo ao longe as meninas a subirem o tom. Percebem-se, agora, claramente as pancadas no bombo. Dois velhos comentam que "parece que estão a rachar lenha". Riem, eu também. Volto à rua, está um homem, sentado num banco de plástico, a tocar o "quizás quizás quizás" num acordeão brilhante que larga demasiado ar. Abrando o passo, não é costume ouvir um músico de rua tão delicado nas notas. Aproximo-me com outro euro em punho e, antes de lho deixar na mala que tinha aos pés, já ele está a agradecer-me com um sorriso meio podre. Engasguei-me e atropelei um "bom dia" num "boa sorte". Ainda nem tinha andado 20 passos quando alguém me acena do meio da rua. Demorei até perceber quem era, detive-me à conversa por uns instantes. Recuperei o andamento e percebi que, ao chegar à descida para a Praça 8 de Maio, ainda consigo ouvir o acordeão velho, convicto no mesmo tema. Estão ciganas com olhar desinteressado a vender meias do topo do muro, a maioria dos que passam não vêem nada destes negócios. Meto pela Rua da Moeda, sempre com o seu ar meio imundo, apenas recortado, aqui e ali, pelo aroma das padarias, e mini-mercados que vendem "molhadas" de hortaliça. Quando se começa a ver a mini-feira de roupas e outras contrafações chegam os primeiros acordes da pianola do Cortês, que está sempre no mesmo sítio - agora com um teclado novo. O desfile de personagens não acaba sem entrarem os senhores e as senhoras que se acumulam nas filas da Loja do Cidadão ou que deambulam pelo largo, sem mais nenhuma ocupação. Eu sigo, já perdida no raciocínio que interrompi a meio da primeira rua. Vinha a organizar o dia, a transformar o cérebro em agenda. Quase torci um pé, depois distraí-me até cá abaixo.

2 comentários:

Léninha disse...

Porra, tenho mesmo saudades dessa cidade!

odeioervilhas disse...

Volta*