sexta-feira, 8 de maio de 2009

Ninguém me peça definições

Não pode ser só isto, só baba e ranho. Enxugo a cara com as palmas das mãos, os lençóis, a almofada, a incerteza de que sou assim, a esperança de que sim (porra, sim) é desta que escreve um texto de 20. E nunca é desta, nem da próxima, nem duma que já passou e, discreta, nem dei por ela. E choro outra vez, muito – muito, porra. Não é natural, é frenético. É de doidos ter de calar o barulho das lágrimas, porque é tarde e quer-se dormir. Não é natural querer escrever e não conseguir ver para lá da barreira de humidade que não para, não descansa. Escorre, só escorre. Puxar o cabelo atrás com as mãos, agarrar o pescoço, olhar o tecto. Sou doida, devo ser cliché também. Não me atrevo a ler o que escrevi, porque nunca gosto. Sempre me disseram que isto e aquilo, mas nunca me disseram que está mal, que tenho de mudar. E depois soa tudo a falso, a consolação de 2º lugar – e a falta de vontade de lá chegar. É impossível ser Madonna quando todos conhecem a Mona Lisa. É impossível não saber o que se quer, o que os outros querem. É impossível ser natural, apenas porque se chora, porque se é lamechas e rápido. Não é escrever, é vomitar – e, assim, é nojento. Não é bonito, não é engraçado e não é novo. É a vontade de apagar, de pensar melhor, duas, três, quatro vezes. Meia dúzia, uma inteira. É sentir que quando aquilo passa, passou tudo. Perde sentido, dá vontade de apagar. E, o tal texto de 20 nunca é, nunca chega e chora-se outra vez. Sem dar por isso, está-se num lago. Cada vez mais abaixo. Até que, foda-se. Pára. Agarra a cabeça, esfrega os olhos. Ninguém te pede nem paga estes circos. Acabou, desanda. P’ra frente é que é Lisboa, sozinha ou com os lobos – há-de lá estar. Se não for desta, que não é… é p’ra amanhã. Vós? “Ide! Tendes estradas/ Tendes jardins, tendes canteiros / Tendes pátria, tendes tetos, / E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... /Eu tenho a minha Loucura!”. Acima de tudo, não tenho controlo. Nitidamente, não sei quem manda aqui. E passar os dedos no cabelo não ajuda, pareço doida. “Deus e o Diabo é que me guiam”, e se tento ser eu estrago. Tudo, como faço agora. Porra. Mais um tiro no 20. No 19 e no 18, nem assim. “Eu amo o Longe e a Miragem / Amo os abismos, as torrentes, os desertos...”. Não gosto é disto. Quero rufar de tambores, de guerra. E depois acabar com tudo. Ponto final. Ao menos, se uma gaivota viesse…

[Não sei quem sou]
“Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí”

1 comentário:

Maf disse...

Aqui está um daqueles exemplos.se o choro te dá crises destas arranjam-se ja lencinhos do lidl em doses massivas.
Mata a insegurança e segue.pra frente é que é lisboa.